sábado, 27 de maio de 2017

Os Exploradores Emocionais







-Toma aí. Ouço: e uma caneta foi jogada em cima do meu colo, exatamente sobre o jornal que eu estava lendo. Levantei a cabeça, e olhei furioso em direção a quem fez. Meu olhar foi em direção a quem tinha jogado o objeto: um rapaz de toca vermelha na cabeça. Era ele, o vendedor de canetinhas vagabundas as quais eram enroladas em um plástico e que se achava no direito de atrapalhar o meu sossego. Digo que isso não é a primeira vez que me acontecem dentro do ônibus, meu transporte preferido. E após jogar as canetas nos colos dos restantes dos passageiros ele vai para o corredor ao lado do motorista, e começa o seu discurso:

“Senhores, eu podia estar vendendo drogas, roubando ou matando, mas não, por isso estou aqui vendendo essas canetas para não precisar fazer nada disso, eu sei que vocês têm deus em seus corações”

Para mim, essas palavras soam como uma ameaça a minha integridade física, algo que poderia acontecer caso eu e os passageiros não comprem seus objetos.

Continuou:

“Eu vendo essas canetas para sustentar a minha família, por apenas um real você leva uma. Aceito moedas, passes escolares, quaisquer coisas que vocês possam dar para ajudar eu aceito”

E tem muitos outros indivíduos que usam as mesmas palavras decoradas e só mudam o objeto que eles estão tentando empurrar. Muitos têm a cara-de-pau em dizer que as ajudas (vendas) são para instituições que cuida de pessoas com AIDS, e somando com outros que entram nos ônibus com doces dizendo as mesmas decorações.


Esses indivíduos falam com tanta firmeza nos olhares e com uma entonação na voz tão séria que muitas pessoas tiram do seu bolso um real ou mais e entrega para os sujeitos os quais vem pelo corredor do busão recolhendo o dinheiro ou as canetas. Os que devolvem os objetos são os que não foram convencidos pelas suas palavras ou até mesmo não têm o dinheiro. Quando ele se aproxima de mim e recebe a caneta (ou outro objeto) de volta vejo em seu olhar a raiva da minha negação. E também de alguns passageiros. Não ligo. Não dou nada, nem o meu sorriso. Alguém deve pensar: que sujeito pão-duro!

Sim, sou pão-duro em minha condição de não saber quem precisa ou quem explora os bons sentimentos das pessoas nos coletivos. Sabe o porquê? Eu digo.

Alguns desses exploradores que chega até colocar ameaças em suas vozes na sua empurração desses produtos, achando que nós somos os responsáveis pela sua condição de falência individual, e digo mais, muitos desses indivíduos estão com excelente saúde, alguns parecendo frequentadores assíduos de academias de musculações.

Certo dia presenciei um desses sujeitos dizer horrores para uma senhora que tinha-se negado a comprar-lhe uma caneta fajuta, ela tinha reclamado com razão sobre o objeto, e disse para o individuo:

“Essas canetas não prestam para nada, não escreve nem dez linhas e acaba a tinta”

Essas palavras foram o suficiente para ela ser agredida verbalmente. Não foi fisicamente por que os passageiros intervieram.

Relato para reforçar minha usura emocional a respeito da mendicância relatada acima e abaixo. Certo dia entrei em uma loja para comprar sapato, eu reconheci um desses indivíduos comprando um tênis de 300 reais, fiquei espantado com tamanha falta de respeito, por isso meu pão-durismo aumentou mais ainda.

E tem mais:  

Um sábado no centro da cidade encontrei dois amigos também professores como eu, fomos tomar uma cerveja e bater papos em um bar já conhecido por nós. Horas foram se passando. E um rapaz chegou à mesa e pediu para nos pagarmos uma quentinha para ele, um dos companheiros levantou da mesa e foi até ao garçom e mandou-o servir o rapaz. 10 Minutos depois, outro rapaz, o mesmo colega pagou-lhe a quentinha.

E como um imã, a nossa mesa atraiu mais uns seis pedintes, achei um absurdo, pois, enquanto, professores ganhamos poucos, trabalhamos muito, e na hora da nossa cervejinha acontece isso devido a boa vontade do nosso amigo. Metemos-lhes um esporro dizendo-lhe:   

“Todos que chegaram a nossa mesa para pedir estavam em plena saúde, e é nossa obrigação sustentá-los?”

Nosso amigo não gostou dessas duras palavras seguidas de uns sermões. Mas, tem certas pessoas que têm de ser chamada para a realidade.

É muito fácil pedir. Tomei o conhecimento que uma senhora tem diversas casas na cidade, tudo construída com dinheiro esmolado durante anos. Fui ao local para conferir e vi fisicamente as casas e a mendiga que eu já conhecia nas ruas da cidade.
 
Isso não quer dizer que eu não ajudo. Ajudo sim, grupos que fazem trabalho reconhecidamente sério em pró dos necessitados. Mas, dá esmola? Não faço mais isso. Não aceito ser explorado na minha condição de cidadão.  






Kaka de souza

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