O Portuga
Esse caso quem me contou é um
ex-motorista de táxi de nome Silas, dono de um bar perto de minha casa, e de
vez em quando paro no local para ouvir seus causos do tempo que ele dirigia nas
ruas da cidade onde moramos. Vou relatar um causo segundo ele, e em sua voz:
Coitado do Manuel. Como o nome
diz, ele era português radicado no Brasil a mais de trinta anos, bom sujeito,
honesto ao extremo. Isso mesmo! Honesto, digo-lhes com ênfase que você vai-me
entender o por que, explico esse honesto; devo dize-lhe que trabalhei mais de
trinta anos como motorista de táxi na cidade (cidade do interior do estado do
rio, Vale do Paraíba, mais precisamente em Volta Redonda, a cidade do aço) não
estou dando volta, só para situar o contexto do acontecido. Nas ruas da cidade
ganhávamos a vida como motorista. Conheci o “Portuga” no ponto. Sujeito alegre,
jovial, bom motorista, excelente amigo. E tem mais: ajudou no aumento da
população da cidade e na miscigenação, pois como seus antigos companheiros do
povoamento brasileiro, o nosso “Portuga” também adora uma negra. Casou com uma.
Como você pode notar era um
típico brasileiro. Coitado do pobre do meu amigo. Como já disse não querendo
ser repetitivo, ele era tão honesto que alguém deixasse uma caixa de fósforos
dentro do seu táxi ele procurava para entregar.
Manuel cansou de procurar
clientes para entregar objetos esquecido no interior do seu autocarro, como ele
gostava de chamar seu táxi. Lembro-me de uma maleta 007 esquecida por alguém no
interior do seu autocarro com centenas de dólares, nem procurou saber a
quantia, foi atrás do passageiro de memória fraca e entregou a maleta, e digo
mais, não quis aceitar nenhuma recompensa pela sua honestidade. “Não é meu
tenho que devolver” dizia para nós. Não pestanejo, foi o sujeito mais honesto
que conheci em minha vida: no entanto para os “vermes” não.
O escriba: “ Só para esclarecer esse “vermes” o ex-taxistas Silas não gosta de quem usa farda, ou melhor,
policiais, militares. Disse-me que foi muito perseguido durante a ditadura,
pois com o nome de Área de Segurança Nacional os policiais da sua cidade ganhou poderes acima da lei, e os Cabeças de Tomate( Milícia
criada pela ditadura para vigiar a cidade, e que muitas vezes agia como
policiais ) o perseguia. Esse causo ocorre
em plena ditadura militar
E como é normal na cidade muitos dos antigos moradores eram alienado. E muitos ainda os
são até hoje e vive com a falsa idéia que na época da ditadura a cidade era bem mais segura, pois os
militares tomavam conta de tudo, inclusive dos moradores” Quando alguém chega
perto dele e fala isso ele explode em um furor sem igual.
Mas continuando:
Estávamos no ponto conversando
eu, o “Portuga” e outros, ah!....Esse ponto ficava em frente à antiga Casa da
Banha, na Vila, que na época o mercado estava em pleno funcionamento. Como o
carro do nosso malfadado amigo estava na
frente, um casal se aproximou e entrou
em seu autocarro( táxi).
Agora vou relatar o que fiquei
sabendo por ele e acreditei é claro. Ele levou o casal para o Retiro, bairro do
outro lado do Rio Paraíba. Eles pararam e pediram para o Manuel
aguardar,......5 minutos.......10 minutos e foi quando ele viu o casal vindo correndo em sua direção gritando
para ele ligar o carro. Ouviu uma voz gritando “pega ladrão”. Ficou apavorado, a
mulher apontou um revolver em sua direção e o fez levá-los para o bairro Belo
Horizonte, na subida do bairro o casal parou e o mandou ir embora. Fez o sinal
da cruz e saiu apavorado e com uma intensa dor de barriga. Como sua casa ficava
no meio do caminho e a poucos metros da delegacia entrou correndo em casa e foi
direto para o banheiro. Logo após alguns minutos saiu pisando nas nuvens. Foi
para o ponto. Esqueceu-se de dar parte do acontecido. Coitado do “Portuga”
Não demorou muito chegou à polícia
e o prendeu por assalto, cumplicidade. A senhora que foi assaltada viu a placa
do seu táxi. Não adiantou ele negar. Apanhava e ouvia: “Cadê seus cúmplices”.
Não tenho cúmplices seu policial, dizia. A sua negativa deixava “os vermes”
mais nervosos ainda, apanhou tanto, socos nos rins, no peito, no fígado. Foi
torturado durante horas. Depois de dias preso foi solto. Triste e marcado pela
tortura voltou para trabalhar. Não durou
muito, morreu meses depois desse acontecimento. Coração enfraqueceu.
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