terça-feira, 30 de maio de 2017

O Portuga


Esse caso quem me contou é um ex-motorista de táxi de nome Silas, dono de um bar perto de minha casa, e de vez em quando paro no local para ouvir seus causos do tempo que ele dirigia nas ruas da cidade onde moramos. Vou relatar um causo segundo ele, e em sua voz:

Coitado do Manuel. Como o nome diz, ele era português radicado no Brasil a mais de trinta anos, bom sujeito, honesto ao extremo. Isso mesmo! Honesto, digo-lhes com ênfase que você vai-me entender o por que, explico esse honesto; devo dize-lhe que trabalhei mais de trinta anos como motorista de táxi na cidade (cidade do interior do estado do rio, Vale do Paraíba, mais precisamente em Volta Redonda, a cidade do aço) não estou dando volta, só para situar o contexto do acontecido. Nas ruas da cidade ganhávamos a vida como motorista. Conheci o “Portuga” no ponto. Sujeito alegre, jovial, bom motorista, excelente amigo. E tem mais: ajudou no aumento da população da cidade e na miscigenação, pois como seus antigos companheiros do povoamento brasileiro, o nosso “Portuga” também adora uma negra. Casou com uma.

Como você pode notar era um típico brasileiro. Coitado do pobre do meu amigo. Como já disse não querendo ser repetitivo, ele era tão honesto que alguém deixasse uma caixa de fósforos dentro do seu táxi ele procurava para entregar.

Manuel cansou de procurar clientes para entregar objetos esquecido no interior do seu autocarro, como ele gostava de chamar seu táxi. Lembro-me de uma maleta 007 esquecida por alguém no interior do seu autocarro com centenas de dólares, nem procurou saber a quantia, foi atrás do passageiro de memória fraca e entregou a maleta, e digo mais, não quis aceitar nenhuma recompensa pela sua honestidade. “Não é meu tenho que devolver” dizia para nós. Não pestanejo, foi o sujeito mais honesto que conheci em minha vida: no entanto para os “vermes” não.

O escriba: “ Só para esclarecer esse “vermes” o ex-taxistas Silas  não gosta de quem usa farda, ou melhor, policiais, militares. Disse-me que foi muito perseguido durante a ditadura, pois com o nome de Área de Segurança Nacional os policiais da sua  cidade ganhou poderes acima  da lei, e os Cabeças de Tomate( Milícia criada pela ditadura para vigiar a cidade, e que muitas vezes agia como policiais ) o perseguia.  Esse causo ocorre em plena ditadura militar

E como é normal na cidade muitos dos antigos  moradores eram alienado. E muitos ainda os são até hoje e vive com a falsa idéia que na época da ditadura  a cidade era bem mais segura, pois os militares tomavam conta de tudo, inclusive dos moradores” Quando alguém chega perto dele e fala isso ele explode em um furor sem igual.

Mas continuando:

Estávamos no ponto conversando eu, o “Portuga” e outros, ah!....Esse ponto ficava em frente à antiga Casa da Banha, na Vila, que na época o mercado estava em pleno funcionamento. Como o carro do  nosso malfadado amigo estava na frente,  um casal se aproximou e entrou em seu autocarro( táxi).

Agora vou relatar o que fiquei sabendo por ele e acreditei é claro. Ele levou o casal para o Retiro, bairro do outro lado do Rio Paraíba. Eles pararam e pediram para o Manuel aguardar,......5 minutos.......10 minutos e foi quando  ele viu o casal vindo correndo em sua direção gritando para ele ligar o carro. Ouviu uma voz gritando “pega ladrão”. Ficou apavorado, a mulher apontou um revolver em sua direção e o fez levá-los para o bairro Belo Horizonte, na subida do bairro o casal parou e o mandou ir embora. Fez o sinal da cruz e saiu apavorado e com uma intensa dor de barriga. Como sua casa ficava no meio do caminho e a poucos metros da delegacia entrou correndo em casa e foi direto para o banheiro. Logo após alguns minutos saiu pisando nas nuvens. Foi para o ponto. Esqueceu-se de dar parte do acontecido. Coitado do “Portuga” 

Não demorou muito chegou à polícia e o prendeu por assalto, cumplicidade. A senhora que foi assaltada viu a placa do seu táxi. Não adiantou ele negar. Apanhava e ouvia: “Cadê seus cúmplices”. Não tenho cúmplices seu policial, dizia. A sua negativa deixava “os vermes” mais nervosos ainda, apanhou tanto, socos nos rins, no peito, no fígado. Foi torturado durante horas. Depois de dias preso foi solto. Triste e marcado pela tortura  voltou para trabalhar. Não durou muito, morreu meses depois desse acontecimento. Coração enfraqueceu.



 Kaka de Souza












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