O Falso Amigo
PRIMEIRA PARTE: Seu pai antes de morrer
disse-lhe: tu agora és o homem da casa. Disse para um garoto de 10 anos. Se ele
soubesse, garanto que ele não faria isso, pois isso acarretou uma formação
deturpada na mente do garoto Toninho, suas falhas mesmo não querendo falhar,
ocorreu, acredito eu, devido a responsabilidade atribuída a ele por um pai no
leito da morte.
Toninho cresceu
tentando tomar conta da mãe e das duas irmãs, não precisava, pois, a mãe
trabalhava e conseguia manter o sustento familiar, todavia, ele queria mais,
achava que a mãe não deveria trabalhar, cresceu assim, e assim se tornou.
Frustrado por não conseguir algo melhor. Entrou na Escola* e dela foi parar na
Usina*
Era um rapaz
brincalhão, mente perturbada, mais inteligente. Trabalhador, estava indo bem em
sua atribuição dentro da empresa e familiar. As irmãs cresceram. Sua mãe
trabalhava e o ajudava nas contas da casa. Sua progenitora era uma mulata muito
bonita, jovem e viúva, ele não aceitava que a mãe arrumasse alguém. Era
ciumento. Talvez até o complexo de Édipo fazia parte do seu imaginário, sei lá,
pode até ser.
Ele chegou de mansinho e se tornou chefe dele,
do Toninho. Agora acho que foi ao contrário, Toninho tornou-se seu subordinado.
JB* chegou bem devagar e disse para o rapaz:
“Vou para o lado de sua casa,
quer uma carona?”
Aceitou é claro,
sabia que o chefe morava a duas quadras de sua casa e não gastaria dinheiro
para a passagem. E JB* fazia parte do escalão da empresa, poderia levar alguma
vantagem com isso, pensou. Andar com o chefe poderia ter ganhos futuro,
disse-me. Eu ri. Fazer o quê? Outro puxa-saco de plantão. Pensei
Só tinha um
fator ai que poderia ou não modificar a vida do Toninho. JB* tinha vinte e
cincos anos de empresa, e era sabido por todos em nossa área que na saída do
turno ele parava nos trailers em frente da Usina* e tomava umas cachacinhas antes
de ir para casa. Toninho ficou aguardando, JB* tomou uma pinga, duas.... e
Toninho a sua espera.
SEGUNDA PARTE: E os dias seguintes foram
às mesmas coisas, nos primeiros dias Toninho tomou um guaraná. Todavia o
‘diabo’ atenta, nesse caso o demônio seria o JB*. Quando Toninho se deu conta
estava bebericando uma cachacinha, uma cerveja e uma branquinha, assim
sucessivamente.
Na verdade o que
JB* estava fazendo era cevar o pobre do Toninho. Queria comer a gostosa da
viúva, a mãe do garoto.
O costume da
bebida era bem aceito pelo organismo de JB*, pois, há anos que ele fazia isso.
Para Toninho era uma heteroagressão em seu organismo. Tornou-se alcoólatra. Não
ficava mais sem a cevada e o álcool.
Se JB* comeu a
viúva? Não sei, havia boatos que sim. Entretanto não posso confirmar. JB* ao
ver que Toninho tinha-se transformado em um problema para a sua administração,
o transferiu para outro turno. Sua covardia era tanto que não tomou medida nenhuma
a respeito do alcoolismo do rapaz, o qual ele tinha transformado em um ser
indesejado para a sociedade.
Chegou ao ponto do
Toninho chegar bêbado no serviço e machucar-se na execução de uma tarefa. Não
conseguia ficar mais sem a bebida, tanto em casa, quanto no trabalho. Foi
demitido. JB*? O responsável? Não fez nada para ajudá-lo. Omitiu-se de tal
forma que até mesmo eu e alguns companheiros ficamos com vergonha.
Claro que havia
como JB* ajudá-lo, pois, a empresa tinha convênios com clínicas que cuidava de
dependentes de drogas e álcool, ele como chefe poderia ter arrumado uma vaga
para o Toninho e encaminhá-lo para umas delas, não o fez.
TERCEIRA PARTE: O rapaz foi para a rua e
não conseguiu parar de beber. Saiu de casa e foi morar nas ruas da cidade.
Virou um pedinte e sem teto. Destituído mentalmente, enlouquecera, pegava
bingas de cigarro no chão. Vivia pedindo para alguém lhe pagar uma dose de
pinga. Hoje, mais de vinte anos do acontecido, quase nada mudaram em sua vida,
quarenta anos com a aparência de setenta, cabelos totalmente brancos, roupas
rasgada e agora catando latinhas de cerveja e garrafa pet nas lixeiras da
cidade para sobreviver. Eu o vi na semana passada remexendo nas lixeiras da
cidade, olhou dentro dos meus olhos, não enxergou nada, eu sim, minha vergonha
de ter presenciado sua destruição e não ter podido fazer nada.
JB* logo após o
rapaz ser demitido aposentou-se e muito bem, tornou-se um homem de “posses”.
Aposentadoria alta. Filhos bem formados. Está velho, mas bem fisicamente,
continua tomando sua pinguinha diária. Eu o vi semana passada, cumprimentou-me
com um sorriso inocente, eu retribuí com um sorriso amarelo, de culpa.
Kaka de Souza
Fim
Palavras-chaves:
Bebidas, falsidade, mendicância, culpa.
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