sábado, 27 de maio de 2017

O Falso Amigo





PRIMEIRA PARTE: Seu pai antes de morrer disse-lhe: tu agora és o homem da casa. Disse para um garoto de 10 anos. Se ele soubesse, garanto que ele não faria isso, pois isso acarretou uma formação deturpada na mente do garoto Toninho, suas falhas mesmo não querendo falhar, ocorreu, acredito eu, devido a responsabilidade atribuída a ele por um pai no leito da morte.

Toninho cresceu tentando tomar conta da mãe e das duas irmãs, não precisava, pois, a mãe trabalhava e conseguia manter o sustento familiar, todavia, ele queria mais, achava que a mãe não deveria trabalhar, cresceu assim, e assim se tornou. Frustrado por não conseguir algo melhor. Entrou na Escola* e dela foi parar na Usina*

Era um rapaz brincalhão, mente perturbada, mais inteligente. Trabalhador, estava indo bem em sua atribuição dentro da empresa e familiar. As irmãs cresceram. Sua mãe trabalhava e o ajudava nas contas da casa. Sua progenitora era uma mulata muito bonita, jovem e viúva, ele não aceitava que a mãe arrumasse alguém. Era ciumento. Talvez até o complexo de Édipo fazia parte do seu imaginário, sei lá, pode até ser.

 Ele chegou de mansinho e se tornou chefe dele, do Toninho. Agora acho que foi ao contrário, Toninho tornou-se seu subordinado. JB* chegou bem devagar e disse para o rapaz:

“Vou para o lado de sua casa, quer uma carona?”

Aceitou é claro, sabia que o chefe morava a duas quadras de sua casa e não gastaria dinheiro para a passagem. E JB* fazia parte do escalão da empresa, poderia levar alguma vantagem com isso, pensou. Andar com o chefe poderia ter ganhos futuro, disse-me. Eu ri. Fazer o quê? Outro puxa-saco de plantão. Pensei

Só tinha um fator ai que poderia ou não modificar a vida do Toninho. JB* tinha vinte e cincos anos de empresa, e era sabido por todos em nossa área que na saída do turno ele parava nos trailers em frente da Usina* e tomava umas cachacinhas antes de ir para casa. Toninho ficou aguardando, JB* tomou uma pinga, duas.... e Toninho a sua espera.
SEGUNDA PARTE: E os dias seguintes foram às mesmas coisas, nos primeiros dias Toninho tomou um guaraná. Todavia o ‘diabo’ atenta, nesse caso o demônio seria o JB*. Quando Toninho se deu conta estava bebericando uma cachacinha, uma cerveja e uma branquinha, assim sucessivamente.

Na verdade o que JB* estava fazendo era cevar o pobre do Toninho. Queria comer a gostosa da viúva, a mãe do garoto.

O costume da bebida era bem aceito pelo organismo de JB*, pois, há anos que ele fazia isso. Para Toninho era uma heteroagressão em seu organismo. Tornou-se alcoólatra. Não ficava mais sem a cevada e o álcool.

Se JB* comeu a viúva? Não sei, havia boatos que sim. Entretanto não posso confirmar. JB* ao ver que Toninho tinha-se transformado em um problema para a sua administração, o transferiu para outro turno. Sua covardia era tanto que não tomou medida nenhuma a respeito do alcoolismo do rapaz, o qual ele tinha transformado em um ser indesejado para a sociedade.

Chegou ao ponto do Toninho chegar bêbado no serviço e machucar-se na execução de uma tarefa. Não conseguia ficar mais sem a bebida, tanto em casa, quanto no trabalho. Foi demitido. JB*? O responsável? Não fez nada para ajudá-lo. Omitiu-se de tal forma que até mesmo eu e alguns companheiros ficamos com vergonha.

Claro que havia como JB* ajudá-lo, pois, a empresa tinha convênios com clínicas que cuidava de dependentes de drogas e álcool, ele como chefe poderia ter arrumado uma vaga para o Toninho e encaminhá-lo para umas delas, não o fez.


TERCEIRA PARTE: O rapaz foi para a rua e não conseguiu parar de beber. Saiu de casa e foi morar nas ruas da cidade. Virou um pedinte e sem teto. Destituído mentalmente, enlouquecera, pegava bingas de cigarro no chão. Vivia pedindo para alguém lhe pagar uma dose de pinga. Hoje, mais de vinte anos do acontecido, quase nada mudaram em sua vida, quarenta anos com a aparência de setenta, cabelos totalmente brancos, roupas rasgada e agora catando latinhas de cerveja e garrafa pet nas lixeiras da cidade para sobreviver. Eu o vi na semana passada remexendo nas lixeiras da cidade, olhou dentro dos meus olhos, não enxergou nada, eu sim, minha vergonha de ter presenciado sua destruição e não ter podido fazer nada.

JB* logo após o rapaz ser demitido aposentou-se e muito bem, tornou-se um homem de “posses”. Aposentadoria alta. Filhos bem formados. Está velho, mas bem fisicamente, continua tomando sua pinguinha diária. Eu o vi semana passada, cumprimentou-me com um sorriso inocente, eu retribuí com um sorriso amarelo, de culpa.

Kaka de Souza

Fim



Palavras-chaves: Bebidas, falsidade, mendicância, culpa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário