CHUMBINHO E A BICICLETA
1970,
tínhamos acabado de ganhar a copa. Éramos um bando de garotos felizes em nossas
criancices. Tínhamos entre 9 e 11 anos. A nossa preocupação era pegar frutas
nos sítios dos vizinhos, caçar passarinho, nadar no Rio Barra Mansa e pescar.
Ah! Pular do pontilhão na represa no rio. Hoje não existe mais a beleza, ele, o
rio, o apodrecemos. Há 40 anos, que coisa mais linda era o seu leito. Eu,
Chumbinho, Paulinho, Tiziu e Neguinho morávamos no final do Bairro Santa Clara,
Barra Mansa, RJ. Onde é a garagem do ônibus Collitur. Brincávamos muito de arco,
que era um retentor de óleo usado nos ônibus. Os mecânicos da empresa, após a
manutenção nos ônibus jogava-os fora e nós pegávamos. Um gancho e um arco,
pronto, as molecadas disputavam quem ficava mais tempo rodando o retentor no
chão com um gancho de arame. Nossas bolinhas de gudes, soltar pipas. Coisa
normal das crianças da década de 70.
Já-me-ia esquecendo! Pescávamos com varas e anzol,
contudo gostávamos mais de pegar o peixe na toca. Enfiávamos as mãos dentro de
uma toca de pedra no leito do rio e puxávamos o peixe. Saudades disso, saudades
do rio Barra Mansa, um rio generoso. Lembro-me que nas pedras grandes na beira
do seu leito e com tocas, vibrávamos, principalmente o Chumbinho. Cercávamos os
buracos em volta da pedra, não deixando a água entrar ou sair. Então, batíamos
uma pita na pedra e o suco escorria para dentro da água em volta da pedra
cercada por nós, o suco da pita tirava o oxigênio. Os bagres, carás, cascudos e
traíras pulavam tentando respirar, fazíamos a festa.
Um
mês após o Brasil tornar-se tri, Chumbinho ganhou uma bicicleta de presente.
Uma bicicleta! Tudo que uma criança da época sonhava. Chumbinho vibrava com o
brinquedo novo. E com razão.
Memórias!
Infelizmente, aquela bicicleta foi a causa de sua morte. Chumbinho pegou o seu
presente e saiu do final de Santa Clara, e já Rodovia Saturnino Braga agarrou
na carroceria de um caminhão, andou segurando por 2 km até na entrada do bairro
Goiabal, município de Barra Mansa, faltando poucos metros da Litográfica S.A,
ele se desequilibrou. Chumbinho e a bicicleta foram parar debaixo da carreta. O
nosso amigo foi esmagado por inteiro. Nossa, que desolação no bairro naqueles
dias. Naquele tempo, apesar de ter apenas 10 anos de idade eu já conhecia o
poder da morte, pois, já tinha perdido irmãos e amigos estupidamente. Na época,
lembro-me, chorei diante da morte outra vez. Não pense que escrevo isso somente
por escrever. Escrevo e descrevo em uma tentativa para “matar” os fantasmas que
me assombram durante anos.
Kaká de Souza
Criancices, brincadeiras,
pescaria, bicicleta, morte, memórias.
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