DNA NORDESTINO
Sinto saudade de uma terra a qual
nunca estiver nela, ou pisei. Lembro-me que quando criança e na adolescência tinham
pensamento contrário as dos meus pais, chegava ao ponto de ter este terrível
sentimento de preconceito em meu coração: sobre a terra dos meus progenitores,
o sangue nordestino que corria e corre em minhas veias, reneguei. Uma
ignorância total e sem respeito aos sentimentos de maternação deles.
Cresci e descobri que trago a
marca de nordestino no sangue, na pele e na mente. Marca essa que nasceu dentro
de um caminhão de pau-de-arara na vinda de Alagoas para o Estado do Rio. Essa
marca foi crescendo entre a miséria e a fome que meus pais não conseguiram se
livrar ao chegar nessas terras. Tal qual muitos dos seus conterrâneos que
vieram para cá e os que ficaram lá. Nasci marcado a ferro e sem o pão
necessário para sobreviver, caçar e comer preás, rolinhas, perdas de irmãos com
doenças causada pela desnutrição. É, são marcas profundas que consegui dolorosamente
fazê-las cicatrizar, confesso que foi difícil.
Hoje sinto orgulho de ter nas
veias o sangue nordestino o qual corre e sustenta movimentando um coração
saudoso doado por pai e mãe alagoanos. Sim, um orgulho no coração que chega a
ser exagero. Sem essas marcas eu não seria o que sou hoje. Professor. Para
muitos; pode ser pouco. Para poucos; pode ser muito. E digo hoje, após
apreender o mundo, lê-lo, que minha maior carência era de conhecimento. Tinha
fome de tudo.
E quando assisto um filme
ambientado no nordeste eu viajo. Filmes como: A Guerra dos Canudos; Lampião e
Maria Bonita; O Auto da Compadecida, Canta Maria e centenas de outros filmes os
quais me faz sentir como uma parte dos seus enredos. E ao ler um livro que
descreve o nordeste brasileiro, sinto-me como se fizesse parte das páginas do
autor, um ponto, um cão de nome baleia. Em um cárcere. Sonho.
Tem momentos que me sinto como um
Judeu, em uma diáspora genética. E a minha terra prometida. E essa terra seria
Alagoas, na região do Rio São Francisco.
Falta-me tempo.....ah! Este tempo que castra
os meus movimentos.
Não é a minha pretensão
autobiografar-se nesse espaço, longe disso. Para contar o que ouvi, presenciei
e vivi, seria necessário muitas páginas. E se um dia eu ter uma, pode ter
certeza que foi escrita com o gosto nas salivas das terras dos meus
contemporâneos.
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