sábado, 27 de maio de 2017

DNA NORDESTINO







Sinto saudade de uma terra a qual nunca estiver nela, ou pisei. Lembro-me que quando criança e na adolescência tinham pensamento contrário as dos meus pais, chegava ao ponto de ter este terrível sentimento de preconceito em meu coração: sobre a terra dos meus progenitores, o sangue nordestino que corria e corre em minhas veias, reneguei. Uma ignorância total e sem respeito aos sentimentos de maternação deles.

Cresci e descobri que trago a marca de nordestino no sangue, na pele e na mente. Marca essa que nasceu dentro de um caminhão de pau-de-arara na vinda de Alagoas para o Estado do Rio. Essa marca foi crescendo entre a miséria e a fome que meus pais não conseguiram se livrar ao chegar nessas terras. Tal qual muitos dos seus conterrâneos que vieram para cá e os que ficaram lá. Nasci marcado a ferro e sem o pão necessário para sobreviver, caçar e comer preás, rolinhas, perdas de irmãos com doenças causada pela desnutrição. É, são marcas profundas que consegui dolorosamente fazê-las cicatrizar, confesso que foi difícil.

Hoje sinto orgulho de ter nas veias o sangue nordestino o qual corre e sustenta movimentando um coração saudoso doado por pai e mãe alagoanos. Sim, um orgulho no coração que chega a ser exagero. Sem essas marcas eu não seria o que sou hoje. Professor. Para muitos; pode ser pouco. Para poucos; pode ser muito. E digo hoje, após apreender o mundo, lê-lo, que minha maior carência era de conhecimento. Tinha fome de tudo.

E quando assisto um filme ambientado no nordeste eu viajo. Filmes como: A Guerra dos Canudos; Lampião e Maria Bonita; O Auto da Compadecida, Canta Maria e centenas de outros filmes os quais me faz sentir como uma parte dos seus enredos. E ao ler um livro que descreve o nordeste brasileiro, sinto-me como se fizesse parte das páginas do autor, um ponto, um cão de nome baleia. Em um cárcere. Sonho.

Tem momentos que me sinto como um Judeu, em uma diáspora genética. E a minha terra prometida. E essa terra seria Alagoas, na região do Rio São Francisco.

 Falta-me tempo.....ah! Este tempo que castra os meus movimentos.


Não é a minha pretensão autobiografar-se nesse espaço, longe disso. Para contar o que ouvi, presenciei e vivi, seria necessário muitas páginas. E se um dia eu ter uma, pode ter certeza que foi escrita com o gosto nas salivas das terras dos meus contemporâneos.

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