sábado, 27 de maio de 2017

O Canalha e o tempo







PRIMEIRA PARTE: Em meados da década de 70 entrei no SENAI em Vassouras, eu e mais 30 adolescentes volta-redondense e barra-mansense, com idade entre 14 a 15 anos. Disciplina rígida, as quais nos eram cobrados há todos os instantes nas dependências do colégio. O SENAI era na época uma fábrica de produção de bons profissionais voltados para as indústrias de bens de consumo duráveis em plena expansão no mercado nacional. Tanto o governo, quanto a burguesia brasileira precisava disso. O governo militar precisava de um bom colégio que disciplinasse adolescentes rebeldes e pobres. As indústrias; de bons funcionários os quais transformava aços brutos em peças para as indústrias de diversos segmentos.

Entre esses garotos estava eu e o Luiz, outro de Barra Mansa. Garoto branco, quinze anos, olhos azuis e pele lisa, normal pela idade. Luiz chamou a atenção de um grupo de jovens que estava quase se formando.

Na época o SENAI funcionava com dois sistemas, internato para os alunos de fora, e externo para alunos das cidades circunvizinhas. Com ensino integral das 7:00 horas as 17:00 horas. Os internos iam embora na sexta-feira, no caso dos alunos de Barra Mansa e Volta Redonda. Como internos vivíamos com pessoas vindas de diversos locais do Brasil. Entre esses jovens, tinhas os que viviam na marginalidade em suas cidades, o governo os colocava em nosso meio como uma maneira de inclusão social. O regime militar cobrava isso do SENAI. A situação era terrível, pois, a mistura de jovens de comunidades carentes: como a grande maioria dos alunos, entre determinado jovens que não queriam estudar, tinha conseqüência terríveis para alguns. Sofríamos como quem administrava o colégio e com os antigos alunos que obrigavam alguns a fazerem as suas vontades. Entregá-los? Dá uma de dedo-duro? Em hipótese alguma. Você ficaria marcado para sempre, e a noite, de madrugada você poderia levar surras terríveis.

SEGUNDA PARTE: A área do SENAI era e continua sendo enorme, tanto construído quanto a área externa, jardins, quadras e um campo de futebol, espaço tinham bastante. E até uma bela capela para quem necessitasse rezar. Meu espaço preferido era a biblioteca, a qual não tinha livros para pensar o mundo, quiçá o Brasil. E não poderia ser diferente em um regime nebuloso. Li praticamente todas as obras do local, lá conheci Malba Taham,  li o homem que calculava. Também Mark Twain. E tinha também meus bolsos livros de faroeste os quais levava de casa para ler e trocar-los pelo meu sossego. Isso mesmo. Dava 5 bolsoslivros por semana para o “negão” para que ele me protegesse de um grupo que não ia com a minha cara, eu era abusado, dizem que até mesmo agressivo, durante um bom tempo consegui levar. O negão foi embora e os antigos também.

Voltando para o que interessa. Onde coexistem centenas de pessoas, é normal que entre eles existam alguns anormais, psicologicamente afetados por idéias doentias, até mesmo sexuais. Tinha uns três que tentavam sodomizar os mais fracos, tanto é que não tinha um dia que não houvesse pandemônio no local. Eu como disse acima comprei a minha segurança. Alguns não conseguiam, mas as grandes maiorias dos antigos eram somente covardes e não sodomitas, quando viam que as coisas estavam descambando para a violência eles mesmos controlavam os doentes bissexuais. É o que penso quem gosta, gosta dos dois lados. Cedem também.

TERCEIRA PARTE: Mas voltando ao meu companheiro de Barra Mansa. Teve dois sujeitos que tentaram de todas as formas pegar o Luiz. Ele era bravo, cortou as intenções com valentia, isso trouxe para aqueles sacripantas certa vontade de humilha-lo. Os dois eram canalhas, tanto J* quanto o seu amigo L*. Apesar dos dois morarem em Barra do Pirai eles conseguiram ficar no regime de internato.

E como o ser humano consegue descer ao mais baixo nível que se possam imaginar, os dois desceram, J* e L*.

O dormitório do SENAI era em quarteirões, assim que todos falavam. E era dividido em repartimento em desníveis andar por andar, Luiz tinha a sua cama no oitavo desníveis no beliche de baixo. Mais de 100 Adolescentes dormindo em um local e só um guarda para tomar conta. Os canalhas J* e L* na madrugada se aproximaram de Luiz e masturbaram-se ejaculando na boca e rosto do rapaz.  Luiz acordou e gritou desesperado, com a confusão os dois tentaram negar, mas a prova estava no rosto do humilhado. Aquele desatino criou uma divisão da turma, os mais novos se revoltaram com os mais velhos, Timideo, o guarda noturno, não deixou a pandega continuar, ele era mau, muito mau para quem conhecia o seu passado.

Os dois foram expulsos do SENAI pelo senhor Guerra, somente do internato. Os pais dos dois canalhas conseguiram amenizar a situação com o diretor Azuil.

 Os dois tinham um grande padrinho, a RFF. E também o futebol, J* na época era a melhor meia-esquerda entre os colégios de Vassouras, e o SENAI precisava dele para ganhar o campeonato daquele ano. Os dois ficaram no sistema de aluno externo.

QUARTO PARTE: Passaram-se anos e como líder de área na Usina* estava recebendo uns funcionários recém-contratados, que iria trabalhar na área a qual eu era o responsável. E quem estava no meio dos contratados? Ele mesmo: o J*, bem mais velho, mas o mesmo jeito cínico de ver a vida e no olhar. Ele fingiu não me conhecer, eu também. Eu jamais esqueceria uma cara canalha. Eu jamais disse para alguém sobre aquela madrugada nojenta. Trabalhei anos com ele na Usina*. Ele durante esses tempos mostrou-me sujo, mente insidiosamente inteligente. Procurava mostrar sempre os erros dos companheiros, dele jamais. Ele sempre fez o estritamente necessário na empresa, nem mais, nem menos. Seu emprego ficou algum tempo garantido também pelo futebol devido o campeonato entre os departamentos. Era problema para que trabalhasse com ele. Jamais demonstrei lembrar-se do seu tempo de SENAI. Por ele fiquei sabendo que o L* seu cúmplice nas canalhices tornou-se teu cunhado. Como todo canalha, não se importou que a irmã desposasse outro canalha. Após anos de insidias na empresa ele foi mandado embora. Dizem que a mulher dele não aguentou e separou-se dele.

Tenho um colega que me diz rindo: nunca conheceu um sujeito tão ruim de papo quanto o J* e que de sua boca só saia pessimismo doentio e depressivo. Cruz credo!

Desde que sai do SENAI não encontrei mais o Luiz, o humilhado. Ah!!! Essas memórias.


Kaka deSouza



Fim



Palavras-chaves: SENAI, covardia, jogo, sodomitas, humilhação, falsidade, sujo.

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