O
Canalha e o tempo
PRIMEIRA PARTE: Em
meados da década de 70 entrei no SENAI em Vassouras, eu e mais 30 adolescentes volta-redondense e barra-mansense, com idade entre 14 a 15 anos. Disciplina
rígida, as quais nos eram cobrados há todos os instantes nas dependências do
colégio. O SENAI era na época uma fábrica de produção de bons profissionais
voltados para as indústrias de bens de consumo duráveis em plena expansão no
mercado nacional. Tanto o governo, quanto a burguesia brasileira precisava
disso. O governo militar precisava de um bom colégio que disciplinasse adolescentes
rebeldes e pobres. As indústrias; de bons funcionários os quais transformava
aços brutos em peças para as indústrias de diversos segmentos.
Entre esses
garotos estava eu e o Luiz, outro de Barra Mansa. Garoto branco, quinze anos,
olhos azuis e pele lisa, normal pela idade. Luiz chamou a atenção de um grupo
de jovens que estava quase se formando.
Na época o SENAI
funcionava com dois sistemas, internato para os alunos de fora, e externo para
alunos das cidades circunvizinhas. Com ensino
integral das 7:00 horas as 17:00 horas. Os internos iam embora na
sexta-feira, no caso dos alunos de Barra Mansa e Volta Redonda. Como internos
vivíamos com pessoas vindas de diversos locais do Brasil. Entre esses jovens,
tinhas os que viviam na marginalidade em suas cidades, o governo os colocava em
nosso meio como uma maneira de inclusão social. O regime militar cobrava isso
do SENAI. A situação era terrível, pois, a mistura de jovens de comunidades
carentes: como a grande maioria dos alunos, entre determinado jovens que não
queriam estudar, tinha conseqüência terríveis para alguns. Sofríamos como quem
administrava o colégio e com os antigos alunos que obrigavam alguns a fazerem
as suas vontades. Entregá-los? Dá uma de dedo-duro? Em hipótese alguma. Você
ficaria marcado para sempre, e a noite, de madrugada você poderia levar surras
terríveis.
SEGUNDA PARTE: A
área do SENAI era e continua sendo enorme, tanto construído quanto a área externa,
jardins, quadras e um campo de futebol, espaço tinham bastante. E até uma bela
capela para quem necessitasse rezar. Meu espaço preferido era a biblioteca, a
qual não tinha livros para pensar o mundo, quiçá o Brasil. E não poderia ser
diferente em um regime nebuloso. Li praticamente todas as obras do local, lá conheci Malba Taham, li o homem que calculava. Também Mark Twain. E
tinha também meus bolsos livros de faroeste os quais levava de casa para ler e trocar-los pelo meu
sossego. Isso mesmo. Dava 5 bolsoslivros por semana para o “negão” para que ele
me protegesse de um grupo que não ia com a minha cara, eu era abusado, dizem
que até mesmo agressivo, durante um bom tempo consegui levar. O negão foi
embora e os antigos também.
Voltando para o que interessa. Onde coexistem centenas de
pessoas, é normal que entre eles existam alguns anormais, psicologicamente afetados
por idéias doentias, até mesmo sexuais. Tinha uns três que tentavam sodomizar
os mais fracos, tanto é que não tinha um dia que não houvesse pandemônio no
local. Eu como disse acima comprei a minha segurança. Alguns não conseguiam,
mas as grandes maiorias dos antigos eram somente covardes e não sodomitas,
quando viam que as coisas estavam descambando para a violência eles mesmos
controlavam os doentes bissexuais. É o que penso quem gosta, gosta dos dois lados.
Cedem também.
TERCEIRA PARTE: Mas voltando ao meu companheiro de Barra
Mansa. Teve dois sujeitos que tentaram de todas as formas pegar o Luiz. Ele era
bravo, cortou as intenções com valentia, isso trouxe para aqueles sacripantas certa
vontade de humilha-lo. Os dois eram canalhas, tanto J* quanto o seu amigo L*. Apesar
dos dois morarem em Barra do Pirai eles conseguiram ficar no regime de
internato.
E como o ser humano consegue descer ao mais baixo nível que
se possam imaginar, os dois desceram, J* e L*.
O dormitório do SENAI era em quarteirões, assim que todos falavam.
E era dividido em repartimento em desníveis andar por andar, Luiz tinha a sua
cama no oitavo desníveis no beliche de baixo. Mais de 100 Adolescentes dormindo
em um local e só um guarda para tomar conta. Os canalhas J* e L* na madrugada
se aproximaram de Luiz e masturbaram-se ejaculando na boca e rosto do
rapaz. Luiz acordou e gritou desesperado,
com a confusão os dois tentaram negar, mas a prova estava no rosto do
humilhado. Aquele desatino criou uma divisão da turma, os mais novos se
revoltaram com os mais velhos, Timideo, o guarda noturno, não deixou a pandega
continuar, ele era mau, muito mau para quem conhecia o seu passado.
Os dois foram expulsos do SENAI pelo senhor Guerra, somente
do internato. Os pais dos dois canalhas conseguiram amenizar a situação com o
diretor Azuil.
Os dois tinham um grande padrinho, a RFF. E
também o futebol, J* na época era a melhor meia-esquerda entre os colégios de
Vassouras, e o SENAI precisava dele para ganhar o campeonato daquele ano. Os
dois ficaram no sistema de aluno externo.
QUARTO PARTE: Passaram-se
anos e como líder de área na Usina* estava recebendo uns funcionários
recém-contratados, que iria trabalhar na área a qual eu era o responsável. E
quem estava no meio dos contratados? Ele mesmo: o J*, bem mais velho, mas o
mesmo jeito cínico de ver a vida e no olhar. Ele fingiu não me conhecer, eu
também. Eu jamais esqueceria uma cara canalha. Eu jamais disse para alguém
sobre aquela madrugada nojenta. Trabalhei anos com ele na Usina*. Ele durante esses
tempos mostrou-me sujo, mente insidiosamente inteligente. Procurava mostrar
sempre os erros dos companheiros, dele jamais. Ele sempre fez o estritamente
necessário na empresa, nem mais, nem menos. Seu emprego ficou algum tempo
garantido também pelo futebol devido o campeonato entre os departamentos. Era
problema para que trabalhasse com ele. Jamais demonstrei lembrar-se do seu
tempo de SENAI. Por ele fiquei sabendo que o L* seu cúmplice nas canalhices
tornou-se teu cunhado. Como todo canalha, não se importou que a irmã desposasse
outro canalha. Após anos de insidias na empresa ele foi mandado embora. Dizem
que a mulher dele não aguentou e separou-se dele.
Tenho um colega
que me diz rindo: nunca conheceu um sujeito tão ruim de papo quanto o J* e que
de sua boca só saia pessimismo doentio e depressivo. Cruz credo!
Desde que sai do
SENAI não encontrei mais o Luiz, o humilhado. Ah!!! Essas memórias.
Fim
Palavras-chaves: SENAI, covardia, jogo, sodomitas,
humilhação, falsidade, sujo.
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