A doce e mortal ilusão da cocaína
PRIMEIRA PARTE: Livres! 17 anos e livre!
Era que achávamos quando chegamos na cidade de Três Rios, no interior do estado
do rio de Janeiro, divisa de Minas. Após dois anos estudando no SENAI de
Vassouras, antes eu, o C*, JC*, N*, três meses depois o P*e G*. Todos com 17
anos e sentindo-se livre, em plena ditadura e estávamo-nos se sentindo livre! Como
éramos alienados! Nada de se estranhar, pois, o colégio (SENAI) nos fizera
sonhar somente com o sistema produtivo, nos fizeram máquinas, e máquinas nos
tornamos para trabalhar em máquina produtiva para o sistema.
Pensando bem,
sem querer filosofar, até que foi uma troca justa, o SENAI ganhou, as empresas
ganharam e o governo nem se fala. E sem se esquecer de que olhando para o lado
social de tudo, nós enquanto trabalhador também tivemos ganhos. Pode até ser que
os marxistas radicais de plantão não ache isso. Entretanto, nós como uns dos
milhares de alunos do SENAI ganhamos muito. Eu ganhei uma possibilidade de
vida.
Ganhamos Eu, o C* e o P* filhos de pai alcoólatra,
JC* filho de pai maluco e morador da Clínica Doutor Eiras, famosa por abrigar malucos famosos. N*
pai já falecido e com a obrigação passada pelo pai para cuidar da mãe e das
irmãs. G*, esse não precisava trabalhar, de família de posses, neto do Rei do
baião; Luiz Gonzaga. Seu pai era dono de posto de gasolina, disse-me P* que
morava na cidade vizinha da de G*.
“Que coisa!!! O neto do Gonzagão também tem
a mesma profissão que tem o nosso presidente, a qual faz questão de dizer
orgulhosamente: sou torneiro.”
Não queria, mas
minha consciência me mandou descrever o nosso companheiro N*, baixinho, cara de
buldogue sem dono, mulheres gostavam de fazer-lhe carinho. Tinha muita sorte
com o sexo oposto.
SEGUNDA PARTE: Entramos na Cia.
Industrial Santa Matilde. Na época era uma empresa moderna voltada para a
produção de tratores, colhedeiras, vagões de trens de passageiro para a RFF e na
produção do carro SM 4.1, carro de passeio com
tecnologia nacional e internacional.
Morávamos em um
quarto de 12 metros quadrados ,
era normais colegas saírem do SENAI e nos procurar para abrigá-los até
arrumarem moradias e se ajeitarem na cidade. Tinha mês que no quarto chegava a
ter 10 colegas empinhados no cubículo.
Como eu já
disse, éramos livres, eu a 150km longe da
minha cidade, Barra Mansa. P* e N* de Vassouras. G* de Miguel Pereira e JC* de
Paracambi. A vida se tornara melhor, fazíamos a nossa própria disciplina, ou
seja, nenhuma. O que era uma afronta para o Senhor guerra, se por acaso ele
fosse fazer uma visita em nosso cubículo. Ah! Senhor Guerra era o homem que
controlava a nossa vida no colégio. Homem com cara de mal esse seu Guerra.
O quarto que
alugamos era conjugado com um bar, na lateral. Tinha mais dois quartos além do
nosso ocupado por trabalhadores da mesma empresa que nós. O nosso quarto ficava
a cincos minutos da portaria da companhia.
TERCEIRA PARTE: Tinhas dias que no
quarto vizinho ao nosso rolava tanta drogas (cocaína) que eles andavam nus e defecavam
na viela ao lado do nosso quarto. Porquanto, nenhum da nossa turma tinha-se
envolvido com entorpecentes, por enquanto, pois, um de nos irá se envolver profundamente
nesse meio e a família lutará muito para tirá-lo do inferno. Digo depois.
O G* não ficou
nem três meses em nosso meio. Seu pai ficou doente e ele foi cuidar dos
negócios do seu pai. Virou morador do sítio Asa Branca definitivamente em Miguel Pereira.
JC* era
extremamente tímido, pois, devido a uma doença quando pequeno que fez-lo perder
todos os dentes da boca. Com o seu primeiro salário ele comprou uma dentadura.
Perdeu a timidez e se transformou.
Com o nosso
primeiro salário fomo visitar as zonas da cidade. Gastamos tudo com mulheres e
bebidas. Com seis meses de empresa ganhávamos 10 salários mínimos da época. Com
dinheiro no bolso, livres, viramos freqüentadores assíduos da vila das
prostitutas no município. Devo deixar claro que essa vila era um bairro com
casas de prostituta dos dois lados da rua. Podíamos escolher de quaisquer
gêneros e idade. Aquele local transformou-se em nossa segunda casa. Lá nos
tornamos bebedores compulsivos de Cuba Libre e caipiríssima. E lembrando que a
nossa família precisavam financeiramente de nos, esquecemo-nos disso durante
alguns meses.
QUARTA PARTE: Certo dia no trabalho,
logo no início do turno, era umas 07h30min horas. Recebemos um comunicado que o
nosso quarto estava pegando fogo, saímos correndo, e ao chegar lá os vizinhos
já tinha apagado, porém, perdemos os colchões dos beliches, em nosso grupo
somente um não fumava. Eu era um dos fumantes, e quem deixou uma ponta de
cigarro acessa? O C*, eu mesmo.
Demos um tempo
com as farras nas zonas, entretanto, N* não.
Começou a faltar trabalho. Mudou do nosso quarto para a zona. Deu-se o início;
o seu início de usuário da cocaína, droga que na época tornou-se barata aproximado
das classes menos favorecida. Saiu do trabalho, não conseguia mais trabalhar. E
como manter seus vícios e as mulheres do puteiro?
Para se manter,
começou a explorar H* sexualmente. Devo dizer que H* tinha pouco tempo na
empresa e alugou um quarto perto do nosso. 40 anos, homossexual assumido,
apaixonou-se por N* que explorou esse
sentimento por algum tempo.
QUINTA PARTE : Lembro-me que N* antes de
ir morar na zona arrumou uma confusão com o vizinho do lado do nosso quarto. O
vizinho reclamava da bagunça, das gritarias, palavrões. Ele com duas filhas
adolescente não podia aceitar isso. Dizia para nós. Houve diversos bate-bocas
entre o vizinho e o nosso grupo. O homem não aceitava de modo algum o nosso
modo de vida. E nós não aceitávamos que um homem tivesse o nome de Carmélio,
isso mesmo? Carmélio era o nome do nosso vizinho; motivo de zoação das
molecadas.
E o que já era
previsto aconteceu, fomos chamado na portaria para separar a briga entre N* e o
Carmélio, nosso vizinho reclamão . Eu e P* ao chegarmos ao local, os dois já estavam
rolando pelo chão se esmurrando. Estavam tão engalfinhados que levamos um bom
tempo para separá-los. Naquele dia arrumamos um inimigo mortal.
SEXTA PARTE: Já estávamos alguns meses
na empresa, foi quando conhecermos JCarlos dentro da FBU,
sigla do departamento o qual trabalhávamos, ele se tornou uma espécie de
guru para nós, a voz que funcionava como um conselheiro, ele tinha uns 30 anos,
grande companheiro, orientador das nossas mentes rebeldes. E somando I* e Gg*
mulheres maravilhosas que conhecemos e nos tornamos grandes amigos. Todavia, N*
parecia ter pegado um caminho sem volta, a doce fantasia da cocaína já o tinha
arrastado para o inferno. Tornou-se um estranho para o grupo. Nós o perdemos,
ele se perdeu de nós.
Um dia a sua mãe
foi buscá-lo. Nunca mais eu o vi. P* disse-me que parentes da sua mãe lutaram
muito para a sua recuperação. Hoje vive no Rio, engordou muito, é motorista de
ônibus no grande Rio.
Tanto JC* e
JCarlos nunca mais os meus olhos os viram. Eu e P* tornamos grandes
companheiros, compadres, e sempre que podemos tomamos nossa cervejinha, um
churrasquinho. Hoje somos grandes amigos. Grandes e deliciosas memórias.
Kaká de Souza
Palavras-chaves: amigos, SENAI, brigas, liberdade,zonas, homossexualismo,
cocaína, vícios.
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