sábado, 27 de maio de 2017

A doce e mortal ilusão da cocaína




PRIMEIRA PARTE: Livres! 17 anos e livre! Era que achávamos quando chegamos na cidade de Três Rios, no interior do estado do rio de Janeiro, divisa de Minas. Após dois anos estudando no SENAI de Vassouras, antes eu, o C*, JC*, N*, três meses depois o P*e G*. Todos com 17 anos e sentindo-se livre, em plena ditadura e estávamo-nos se sentindo livre! Como éramos alienados! Nada de se estranhar, pois, o colégio (SENAI) nos fizera sonhar somente com o sistema produtivo, nos fizeram máquinas, e máquinas nos tornamos para trabalhar em máquina produtiva para o sistema.

Pensando bem, sem querer filosofar, até que foi uma troca justa, o SENAI ganhou, as empresas ganharam e o governo nem se fala. E sem se esquecer de que olhando para o lado social de tudo, nós enquanto trabalhador também tivemos ganhos. Pode até ser que os marxistas radicais de plantão não ache isso. Entretanto, nós como uns dos milhares de alunos do SENAI ganhamos muito. Eu ganhei uma possibilidade de vida.

Ganhamos Eu, o C* e o P* filhos de pai alcoólatra, JC* filho de pai maluco e morador da Clínica Doutor Eiras, famosa por abrigar malucos famosos. N* pai já falecido e com a obrigação passada pelo pai para cuidar da mãe e das irmãs. G*, esse não precisava trabalhar, de família de posses, neto do Rei do baião; Luiz Gonzaga. Seu pai era dono de posto de gasolina, disse-me P* que morava na cidade vizinha da de G*.

“Que coisa!!! O neto do Gonzagão também tem a mesma profissão que tem o nosso presidente, a qual faz questão de dizer orgulhosamente: sou torneiro.”

Não queria, mas minha consciência me mandou descrever o nosso companheiro N*, baixinho, cara de buldogue sem dono, mulheres gostavam de fazer-lhe carinho. Tinha muita sorte com o sexo oposto.

SEGUNDA PARTE: Entramos na Cia. Industrial Santa Matilde. Na época era uma empresa moderna voltada para a produção de tratores, colhedeiras, vagões de trens de passageiro para a RFF e na produção do carro SM 4.1, carro de passeio com tecnologia nacional e internacional.

Morávamos em um quarto de 12 metros quadrados, era normais colegas saírem do SENAI e nos procurar para abrigá-los até arrumarem moradias e se ajeitarem na cidade. Tinha mês que no quarto chegava a ter 10 colegas empinhados no cubículo.

Como eu já disse, éramos livres, eu a 150km longe da minha cidade, Barra Mansa. P* e N* de Vassouras. G* de Miguel Pereira e JC* de Paracambi. A vida se tornara melhor, fazíamos a nossa própria disciplina, ou seja, nenhuma. O que era uma afronta para o Senhor guerra, se por acaso ele fosse fazer uma visita em nosso cubículo. Ah! Senhor Guerra era o homem que controlava a nossa vida no colégio. Homem com cara de mal esse seu Guerra.

O quarto que alugamos era conjugado com um bar, na lateral. Tinha mais dois quartos além do nosso ocupado por trabalhadores da mesma empresa que nós. O nosso quarto ficava a cincos minutos da portaria da companhia.


TERCEIRA PARTE: Tinhas dias que no quarto vizinho ao nosso rolava tanta drogas (cocaína) que eles andavam nus e defecavam na viela ao lado do nosso quarto. Porquanto, nenhum da nossa turma tinha-se envolvido com entorpecentes, por enquanto, pois, um de nos irá se envolver profundamente nesse meio e a família lutará muito para tirá-lo do inferno. Digo depois.

O G* não ficou nem três meses em nosso meio. Seu pai ficou doente e ele foi cuidar dos negócios do seu pai. Virou morador do sítio Asa Branca definitivamente em Miguel Pereira.

JC* era extremamente tímido, pois, devido a uma doença quando pequeno que fez-lo perder todos os dentes da boca. Com o seu primeiro salário ele comprou uma dentadura. Perdeu a timidez e se transformou.

Com o nosso primeiro salário fomo visitar as zonas da cidade. Gastamos tudo com mulheres e bebidas. Com seis meses de empresa ganhávamos 10 salários mínimos da época. Com dinheiro no bolso, livres, viramos freqüentadores assíduos da vila das prostitutas no município. Devo deixar claro que essa vila era um bairro com casas de prostituta dos dois lados da rua. Podíamos escolher de quaisquer gêneros e idade. Aquele local transformou-se em nossa segunda casa. Lá nos tornamos bebedores compulsivos de Cuba Libre e caipiríssima. E lembrando que a nossa família precisavam financeiramente de nos, esquecemo-nos disso durante alguns meses.

QUARTA PARTE: Certo dia no trabalho, logo no início do turno, era umas 07h30min horas. Recebemos um comunicado que o nosso quarto estava pegando fogo, saímos correndo, e ao chegar lá os vizinhos já tinha apagado, porém, perdemos os colchões dos beliches, em nosso grupo somente um não fumava. Eu era um dos fumantes, e quem deixou uma ponta de cigarro acessa? O C*, eu mesmo.

Demos um tempo com as farras nas zonas, entretanto, N* não. Começou a faltar trabalho. Mudou do nosso quarto para a zona. Deu-se o início; o seu início de usuário da cocaína, droga que na época tornou-se barata aproximado das classes menos favorecida. Saiu do trabalho, não conseguia mais trabalhar. E como manter seus vícios e as mulheres do puteiro? 

Para se manter, começou a explorar H* sexualmente. Devo dizer que H* tinha pouco tempo na empresa e alugou um quarto perto do nosso. 40 anos, homossexual assumido, apaixonou-se  por N* que explorou esse sentimento por algum tempo.


QUINTA PARTE : Lembro-me que N* antes de ir morar na zona arrumou uma confusão com o vizinho do lado do nosso quarto. O vizinho reclamava da bagunça, das gritarias, palavrões. Ele com duas filhas adolescente não podia aceitar isso. Dizia para nós. Houve diversos bate-bocas entre o vizinho e o nosso grupo. O homem não aceitava de modo algum o nosso modo de vida. E nós não aceitávamos que um homem tivesse o nome de Carmélio, isso mesmo? Carmélio era o nome do nosso vizinho; motivo de zoação das molecadas.

E o que já era previsto aconteceu, fomos chamado na portaria para separar a briga entre N* e o Carmélio, nosso vizinho reclamão . Eu e P* ao chegarmos ao local, os dois já estavam rolando pelo chão se esmurrando. Estavam tão engalfinhados que levamos um bom tempo para separá-los. Naquele dia arrumamos um inimigo mortal.


SEXTA PARTE: Já estávamos alguns meses na empresa, foi quando conhecermos JCarlos dentro da FBU, sigla do departamento o qual trabalhávamos, ele se tornou uma espécie de guru para nós, a voz que funcionava como um conselheiro, ele tinha uns 30 anos, grande companheiro, orientador das nossas mentes rebeldes. E somando I* e Gg* mulheres maravilhosas que conhecemos e nos tornamos grandes amigos. Todavia, N* parecia ter pegado um caminho sem volta, a doce fantasia da cocaína já o tinha arrastado para o inferno. Tornou-se um estranho para o grupo. Nós o perdemos, ele se perdeu de nós.

Um dia a sua mãe foi buscá-lo. Nunca mais eu o vi. P* disse-me que parentes da sua mãe lutaram muito para a sua recuperação. Hoje vive no Rio, engordou muito, é motorista de ônibus no grande Rio.

Tanto JC* e JCarlos nunca mais os meus olhos os viram. Eu e P* tornamos grandes companheiros, compadres, e sempre que podemos tomamos nossa cervejinha, um churrasquinho. Hoje somos grandes amigos. Grandes e deliciosas memórias.


Kaká de Souza


Palavras-chaves: amigos, SENAI, brigas, liberdade,zonas, homossexualismo, cocaína, vícios. 

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