CANCRO SOCIAL
E OUTRAS CHAGAS (Parte
1)
CAPÌTULO
I
Não há acidentes nem anomalias no
universo; tudo acontece por uma lei e tudo atesta uma casualidade.
“Citado por Lúcio de Mendonça no
livro o marido da adúltera”
O que conto parece fantasioso, todavia, vou deixar para
os senhores ficarem pensando na hipótese da verdade. Mas, antes vamos conhecer
a cidade que aconteceu o fato que vou expor aqui nessas páginas.
Esse fato, os quais vão discorrer,
aconteceu no município de Resende, região central do Agulhas Negras, que é considerada
uma das mais belas do Brasil. Situa-se na região do Vale do Paraíba Fluminense, é conhecida
nacionalmente e internacionalmente pelos seus relevos montanhosos, cachoeiras,
rios cristalinos, fauna e flora.
A região é o segundo polo turístico
mais visitado do estado do Rio de Janeiro, perdendo apenas
para a Capital. A extensão territorial de Resende é uma das maiores do estado
do Rio de Janeiro. Com grandes extensões de matas preservadas, nascentes e
riachos e cachoeira com 200
metros de altura, sendo o maior salto do Estado do Rio.
Com casarões que atestam a opulência e
a prosperidade econômica da época do café no Vale do Paraíba. O Centro Histórico de Resende possui diversos casarões, praças, pontes
e igrejas do século XIX. Na verdade ninguém pode dizer que conhece o Brasil sem
antes conhecer essa região do interior do Estado.
Souza era tenente na Academia Militar das Agulhas
Negras, a qual se situa na região central de Resende. Centro em excelência
militar no Brasil, quiçá no mundo, se isso é bom ou ruim, não estou aqui para
discutir isso. Seu pai, Coronel reformado o criou desde pequeno para ser seu
retrato, digo, militar, o disciplinou. Mas, na verdade não precisava, Souza
nasceu para seguir a carreira militar, gostava da disciplina, do regime rígido
e implacável, a face algumas vezes cruel da carreira. Dizia para todos que
nasceu para isso.
Academia Militar das Agulhas Negras é um estabelecimento da linha de ensino militar bélico de nível superior do Exército Brasileiro, responsável pela formação dos oficiais da ativa, futuros chefes militares, das Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, do Serviço de Intendência e do Quadro de Material Bélico. Existe desde 1944 e está localizada às margens da Rodovia Presidente Dutra.
Centrada à sombra do pico das Agulhas
Negras, que lhe empresta o nome, e junto ao rio Paraíba do Sul. Ela encontra-se
a meio caminho das duas maiores cidades do país, Rio e São Paulo.
As instalações da AMAN impressionam
desde o lado de fora, com seu enorme e portão monumental e jardins à sua volta.
Tudo é feito visando à formação dos Cadetes, jovens estudantes militar e futuro
oficiais, sendo preparados para comandar as forças do Exército Brasileiro no
futuro. É considerada a mais bonita Academia Militar do mundo, graças à digna
história dos oito cadetes, hoje anônimos militares reformados e de nomes
esquecidos, mas o belo gesto, a coragem, devido o amor à sua escola tornaram-se
lenda. Pode ser
considerada como uma grande Academia Militar, tendo por si só formados diversos
militares importantes. O tenente Souza, anos depois da ocorrência relatada fará
parte desse grupo.
CAPÍTULO II
Armando Nogueira Feliciano de Souza, mas conhecido
como tenente Souza, aos cinco anos de idade sabia ler, escrever e tocava piano.
Não saia de casa a não ser para ir ao colégio, em casa se enfiava nos estudos,
era primeiro em tudo, no ensino primário, no fundamental e médio. Na academia
se formou sendo o melhor da turma, exímio atirador, um espadachim de primeira.
Em comunicação militar era comparável com os melhores do mundo, códigos
militares conheciam praticamente todos, era um soldado brilhante.
No entanto com as mulheres sua timidez era doentia,
em frente a um ser feminino paralisava, perdia a voz, suas pernas tremiam e as
mãos suavam em excesso.
Sua atitude diante do mundo era de uma pessoa extremamente
rara. Sua honestidade destoava muito do que se vê hoje em dia. Se achasse qualquer
coisa que não fosse dele procurava devolver, virou motivo de zombaria quando no
primeiro ano na academia achou uma carteira recheada de dinheiro no banheiro
dos oficiais e devolveu para o dono. Era um ser ético, difícil de encontrar
hoje em dia. Tímido
ao ponto de chegar aos 23 anos ainda virgem.
Alguém pode estar pensando que Souza era desprovido
de beleza, ledo engano. Cabelo castanho, olhos negros e penetrante, 90 quilos
bem distribuídos em 1,91 cm ,
até sua genitália era bem nutrido e musculoso e bem acima da média. Na verdade
era um “homem para casar”, como se diz hoje em dia.
Em uma festa no clube Militar conheceu Sofia, filha
de militar, 18 anos, 1,74 cm ,
olhos caramelizados, cabelos negros um corpo escultural e bem distribuído.
Souza ao vê-la se apaixonou perdidamente. Vitor, o
irmão da garota era companheiro do tenente, entraram junto na academia. Souza
pediu para o amigo apresentá-la para ele. Ela ficou radiante em conhecer o
rapaz tímido e olhar penetrante, ele perdeu a timidez, a paixão falou mais
alto. Começaram a namorar, casaram após quase um ano de namoro. Sofia disse
para os pais que não aguentava mais esperar. Sendo o pai um militar de disciplina
rígida e linha dura entendeu o recado da filha, marcaram a data do casamento.
Dois anos de casados, eram felizes, estavam
pensando em ter um filho, ela madura mais mulher. Chamava a atenção por onde
passava, Souza fingia não ver os olhares de desejos “dos amigos”, só olhavam,
ele tinha plena confiança na sua mulher. No entanto, a natureza, mesmo não
sendo seu intuito se impôs contra a felicidade de Souza e Sofia. Ou talvez você
queira tirar a natureza e colocar como designo de Deus, eu não, decerto se eu
fizer isso ai meus Deus seria o mesmo Deus do livro Caim de Saramago. Vamos
ver, talvez no desenrolar do fato vocês concordem comigo.
CAPÍTULO III
Certo dia Sofia estava arrumando a casa e quando
olhou para a janela viu um rapaz da casa ao lado da sua olhando incisivamente
para dentro da sua, ou seja, para ela. Fechou a cortina e esqueceu. Noutro dia
o rapaz apoiado no peitoril da janela fingindo ler e despudoradamente a olhava.
Procurou saber quem era o rapaz que estava na casa ao lado. Descobriu que era
primo do Tenente Teixeira, amigo do seu marido. Pensou: “sendo primo do militar
deve ser gente boa”.
Em uma segunda-feira foi para área de serviço onde
tinha uma pequena lavanderia, pretendia lavar roupas. Escutou o rapaz lhe
cumprimentar, respondeu educadamente, disfarçadamente o observou, moreno, olhos
verdes, porte atlético, a altura um pouco maior que ela, sorriso fácil e
cínico.
A área de serviço ficava no fundo da casa, ela de
shorts curto deixava transparecer suas coxas generosas e bem torneadas e o
restante do corpo melhor ainda. Sem aperceber despertou desejo obscuro no
rapaz.
Sofia colocava as roupas na máquina e esperava. O
rapaz de mansinho foi se aproximando. Todo o dia a cumprimentava, ela
retribuía. Sofia acabou se acostumando com as saudações. E quando se deu conta
estava do lado do muro conversando longos papos. Achava normal ficarem quase
todos os dias mantendo horas de conversa com o rapaz enquanto seu marido estava
na caserna.
Guto, esse era o nome do rapaz, começou a fazer
piadinha de cunho erótico, ela não gostou, cortou a conversa e entrou em casa
correndo. No outro dia lavando roupas com uma camisa fina de malha se molhou deixando
as mostras as forma rosadas e generosas dos seios, Guto se aproximou e a
elogiou tal formosura, foi ai que ela viu a transparência de sua camisa, riu
timidamente, entrou para trocar a roupa.
No dia seguinte ela saiu e foi conversar com ele, e
foi quando o rapaz lhe disse que era estudante. No rosto de Sofia a pergunta,
se ele era estudante por que estava na casa do primo em pleno mês letivo? O
rapaz disfarçou. O jogo continuou, as piadinhas, sorrisos, elogios sobre seu
corpo, ela ria e se sentia lisonjeada. Vendo que ela estava mais solta o
galanteador começou a soprar baixinho o que faria com ela se os dois ficassem
sozinhos, ela dizia:
“Você não tem coragem de fazer essas coisas
nojentas”
O conquistador apontava em direção da bermuda e a
mostrava como ela o deixava. Sofia espantada, mais ao mesmo tempo orgulhosa de
causar êxtase no homem sem o menos tocá-lo. Ele lhe dizia coisas que jamais
achava que podia acontecer entre um homem e uma mulher.
Como vocês podem observar o rapaz usava do ócio criativo,
nunca trabalhou, estudou até a terceira série do ensino fundamental. Sua
sobrevivência dependia das mulheres enganadas por ele. Criatividade tinha, mais
jamais para mudar a si próprio.
Quando Sofia já estava bem “amaciada”, Guto pulou o
pequeno muro que separava as duas casas, quando ela se deu conta, ele estava
atrás dela no quartinho da lavanderia, ela viu estrelas, ainda mais quando ele
a ensinou a arte da felação e cunilíngua, ela se sentia na lua, em uma viagem
cósmica e alucinante.
Na artimanha da sodomia se iniciou e ao conhecer
formas diferentes ficou se perguntado:
“Como não
sabia nada disso? Que prazer é esse que o Guto estava-lhe proporcionando?”
Amor, carinho e orgasmo manso tinham com o marido, mas esse?
Aquilo estava além de sua imaginação, sentir dor e
prazer como estava sentido nos braços daquele homem.
Isso não quer dizer que nunca teve prazer com o
marido, claro que não era isso, tinha, mas, não tão intenso com o tinha com
Guto, mesmo ele tendo o músculo que lhe dava tanto prazer bem menor e menos
encorpado do que o do seu marido. Mas, o cafajeste sabia usar seus atributos.
Seu marido era tão inexperiente quanto ela, “papai
e mamãe” era o que os dois conheciam. Isso bastava para Souza. Mas quando Sofia
conheceu novas formas de amar se apaixonou loucamente pelo Dom Juan do muro.
O devasso a transformou tanto sexualmente como
psicologicamente, mentir se tornou parte de sua vida.
Que fique claro que não quero influenciar ninguém a
respeito dos acontecimentos, mas se ela era tão intensa deveria ter conversado
com o marido. É sabido que Souza fazia tudo que ela pedisse, até a lua se fosse
o caso ele lhe daria. Digo, não quero julgá-la, eu como escriba desse caso só
estou explanando minha opinião. Vocês podem ter as suas.
Mais
voltando o fato: ela ficou alucinada com as novas descobertas. Tinha mais de
dois meses que não procurava o marido. E quando Souza tentava afanar um carinho
dela, dores de cabeças intensas surgia em Sofia. Ele a beijava no rosto e dormia com ela ao
lado acordada, sonhava com Guto.
Eu volto
a dizer: a natureza conspirava a favor de Sofia. O tenente Souza foi convidado
um curso de sobrevivência na selva na Amazônia, não queria ficar longe de sua
amada, mas, colocar em seu currículo esse curso era seu sonho. Viajou para
passar um mês na selva. Como vocês podem ver, ela, a natureza conspirava contra
um homem de caráter a favor de outro totalmente sem. Livre arbítrio? Sei.
Sofia aproveitou e colocou Guto dentro de
casa, mesmo com os olhares de repugnância dos vizinhos, não ligou. Dia e noite
durante vários dias, ela se tornou conhecedora da arte do “amor” sexual. Na
alcova lhe pedia para fugir com ele. Ela dizia:
“Tenho pena do meu marido”
No dia da
chegada do marido, o rapaz pulou o muro, ela fingia felicidade com a volta de
Souza. Ele feliz em estar de novo junto com sua amada esposa.
Os dias
passaram e ninguém tinha coragem de contar-lhe o que sua esposa andou fazendo
em sua ausência. Ele sentia que as pessoas o olhavam diferente, não entendia.
Certo dia
Souza observou que estranhamente estava sumindo dinheiro de sua carteira.
Perguntou para Sofia:
“Você pegou algum dinheiro em
minha carteira?”
“Não -
respondia descaradamente.”
CAPÍTULO
IV
Até que
um dia de tanto o cafajeste ficar falando aos seus ouvidos, decidiu fugir.
Sofia pegou todo o seu dinheiro da poupança e foi embora.
Souza
estava ansioso para chegar a casa e ver sua amada, não sabia o porquê, mas
estava com muita saudade, surgiu assim, de repente, lembrou da amada. Quando
entrou em casa a chamou e nada, silêncio total, no quarto o armário vazio.
“O que aconteceu?” Murmurava para si mesmo.
Procurou
em todos os cômodos da casa. O desespero bateu em seu coração. “Ela fora
embora” - pensou. Saiu na rua para perguntar para os vizinhos, na casa em
frente a sua, não encontrou ninguém. Por mais incrível que lhe estava parecendo
não encontrou pessoas, ruas vazias.
O que
estava havendo, nem os vizinhos estavam em casa? Foi quando viu o seu vizinho e
companheiro de academia, o Tenente Teixeira, que aproximou e lhe disse:
“Sua mulher fugiu com o meu
primo.”
Souza
ficou boquiaberto sem entender o que o tenente acabara de falar, apalermado
gritou:
“ Você
está mentindo! – Exclamou revoltado segurando a gola da camisa do Teixeira”
E o tenente disse:
“ É por isso que ninguém quer falar com você.
Os vizinhos se esconderam com medo de sua reação”
Empurrou
o companheiro e entrou em casa cabisbaixo tentando descobrir onde tinha errado.
CAPÍTULO
V
Sofia foi
convencida por Guto a viajar para Campinas. Acreditou que a paixão do rapaz era
verdadeira, dizia para ela que iria montar uma casa para os dois morarem junto.
Foram para um hotel, ela muito feliz, estava muito apaixonada. O cafajeste
usava o dinheiro de Sofia em farras, mulheres e roupas, Sofia não sabia de
nada. Dos meses de amor intenso e “sujo”, opa! Sujo não. Sujo porque ela fazia
com um sujeito sujo.
Após três
meses da estada em Campinas o dinheiro acabou e o amor do marginal também. Ela
foi obrigada a fazer as piores bizarrices, passando por diversas humilhações
para suprir as necessidades financeiras do “seu amor.” Tudo que tinha aprendido
a respeito da “educação sexual com Guto” teve que colocar em prática com homens
que o galanteador arrumava para ela. Sendo obrigada a alojar em seus lábios
parte íntimas masculinas e femininas que a muitos não via água. Sebos fedendo a
carniça entravam em sua boca diariamente, seu corpo foi usado como depósito de
fluidos que penetrava nela de variadas formas possíveis. Transformou-se em um
dejeto humano.
Não aguentou,
adoeceu. “Seu amor” sem despundonor nenhum a jogou na rua. Doente procurou um
lugar para ficar, pontes, marquises, era a sua opção. Tinha vergonha em até
pensar entrar em contato como seu marido, sua vergonha só não era maior que a
vontade que ela tinha de se matar, mas nem para isso ela tinha força. Tentativa
de estupros era constante. Fome fazia parte do seu cardápio diário. Sentia pena
de si e murmurava:
“ Como
sou burra, deixei meu instinto libidinosos suplantar um amor descente e
verdadeiro”.
Perdeu a
razão de viver, entre pedidos de esmolas e a loucura, esperava a morte chegar.
CAPITULO
VI
No
quartel Souza procura se manter altivo, no entanto, após a partida da mulher
ninguém via em seu rosto um sorriso. Aquartelou-se, sua casa trazia lembranças
que estava se esforçando para esquecer. Trabalho, praticar esporte em uma
tentativa de escapar das lembranças se tornara tentativas infrutíferas.
Piadinhas
no quartel sobre ele e a esposa escutava direto, risos, cochichos, olhares de
soslaio. “Seu amigo Teixeira” fez a parte dele no quartel: parte ruim. Espalhou
o acontecido entre o primo e a esposa do tenente Souza. Isso não magoava o
oficial, sua saudade era maior que as piadas. Mas indisciplina ele não deixava
passar. No alojamento ao passar uma ordem para o cabo recebeu como resposta:
“Não recebo ordem de corno.”
O tenente
Souza dispensou quem estava dentro do alojamento ficando ele e o cabo
indisciplinado.
O
subalterno não acreditava em retaliações de um homem que todos diziam ser
“certinho” cumpridor das normas militar. Mas aquele dia não foi assim. Quando
se deu conta o tenente estava em cima dele esmurrando-o, não teve tempo de se
defender, Souza descontou a raiva que estava sentindo em seu subordinado
desafortunado. Saiu deixando seu comandado com o rosto sangrando e vários
dentes quebrados.
O que
vocês acham que aconteceu? Nada. Ninguém comentou sobre o acontecido. O cabo
alegou que sofreu um acidente. A partir daquele dia não se ouvia mais
comentário ou cochichos sobre a vida privada do tenente Souza: Medo.
O tenente
uma vez por semana ia a sua casa, quando estava com muita saudade do cheiro da
amada. E ao dormir, o travesseiro ficava umedecido de lágrimas nostálgicas.
Sentia morrer um pouco a cada dia com a falta da esposa.
Como amar
uma mulher assim? O amor de Souza não era doentio, era incondicional.
Ao
amanhecer o sol bateu em seu rosto, a janela aberta trazia umidade do Pico das
Agulhas Negras, sinal de muita chuva durante o dia. Estava sem força para
levantar-se, ouviu alguém por lado de fora lhe chamar, era seu vizinho, antigo
amigo, o primo do homem que fugiu com sua mulher, não queria responder,
entretanto, sua educação era maior do que a mágoa que sentia pelo tenente
Teixeira.
Ele, meio
sem graça ao ver Souza a porta, contou para o oficial que ficou sabendo o que
seu primo fizera com Sofia, deixando na absoluta miséria. Ouviu tudo, agradeceu
ao Tenente Teixeira e entrou em casa para pensar no que acabara de saber.
Foi para
o quartel pensando em qual atitude tomar diante do acontecimento. No caminho
tomou a decisão: Ao chegar ao quartel foi imediatamente conversar com o
comandante. Pediu-lhe dez dias de dispensa para resolver assuntos particulares.
Seu pedido foi aceito.
CAPÍTULO
VII
Pegou a
Br-166 e foi para a cidade de Campinas. Andou pelas ruas da cidade, vielas,
guetos, debaixo de viadutos e nada de encontrá-la. Já estava no oitavo dia de
procura e sem dormir, porém, tinha disposição de ficar procurando-a até acabar
sua licença.
Passando
embaixo do viaduto Miguel Vicente Cury ao anoitecer do nono dia ele a viu, seu
coração parecia que iria parar, acelerou, a tinha encontrado. Sofia estava
irreconhecível, feridas no rosto, cabelos lotados de piolhos que andavam em seu
rosto e nas suas sobrancelhas. Chorou ao vê-la em tal estado. Ela tentou fugir
dele, Souza viu no rosto da esposa a vergonha, faltou coragem para encará-lo.
Ao vê-la tão fragilizada, seu coração amargurado se abriu em alegria, não de
ver tamanha decadência da amada, mas, sim por sentir que seu amor estava perto
dele.
Ela sem
força não resistiu ao ser pega no colo e postada dentro do carro. O tenente
Souza ao chegar a Resende, a levou direto para uma clinica particular. Mandou
fazer todos os exames possíveis na esposa.
Agradeceu
a Deus, pois, sua amada teve sorte, a única doença venérea que adquiriu foi um
cancro, “se podemos chamar isso de sorte”, no entanto Souza estava feliz. A
médica o chamou para conversar e lhe disse que o cancro tinha mutilado a vulva
de sua esposa, os vermes e bactérias tinham comido os pequenos lábios vaginais
e seu clitóris. Mutilou de tal forma que nem cirurgia plástica iria resolver. A
médica enfatizou que Sofia tinha muita sorte em ter uma doença curável.
Quando a
família de Sofia e principalmente a família Nogueira Feliciano de Souza ficaram sabendo que
Armando tinha aceitado Sofia de volta depois de tudo que ela fizera, ficaram
revoltados.
Perguntavam:
como ele podia aceitar semelhante pessoa ao lado dele? O mínimo que o chamaram
foi de idiota. Ele em silêncio ouvia todos sem responder. Como podia falar para
alguém que sua alma só seria completa junto com a de Sofia. Quem entenderia? Um
amor imaginável, seu corpo implorava pela presença dela. Sem essa essência, ele
não conseguiria viver. Quem entenderia isso?
No
quartel voltou os cochichos, mas não sei importava. Perto dele mantinham-se
silêncios, lembravam-se da surra que ele deu no cabo. Seus ditos “amigos”
diziam que não podia ter contato com um homem que aceitou de volta semelhante
criatura. Afastaram dele como se tivesse uma doença contagiosa.
O
comandante conhecia a competência de Souza, nada comentava, a ética não
deixava. Para ele o que importava que seu subordinado era um excelente militar.
Honrado, ético e competente. Estava sendo preparado para ser futuro chefe militar das Armas de Infantaria. Isso que
lhes interessavam.
CAPÍTULO
VII
Sofia
ficou quatro meses na clínica se tratando com antibiótico fortíssimo. Ao sair
às marcas externas tinha sumido, mas as internas a tinham marcado para sempre.
No entanto, Sofia tinha recuperado a beleza, estava linda.
Em casa,
sem jeito, com vergonhas de sua atitude desonesta com seu marido, mas, se
consolava a ver no rosto do esposo a felicidade com a sua presença. Os vizinhos
a desprezavam. Ela entendia esse sentimento de repulsa.
Nem os
familiares apareciam mais em sua casa. Ela fazia de tudo para não sair de sua
residência, queria anonimato total. No começo não entendia como Armado a tinha
perdoado apesar de tudo que ela fez. Aos poucos entendeu o amor imenso do
marido, e pensava que para isso teve que virar um dejeto humano, parar na
sarjeta.
Através
do carinho do esposo conseguiu recuperar dos traumas, e de sua mutilação
causado pelo cancro. Sofia acreditava que com a sua ablação não iria mais
sentir prazer, todavia, com o amor do marido ela não só sentiu prazer, como a
relação entre os dois se tornara muito forte.
Aprendeu
que o que ela pedisse para o marido ele fazia, não lhe negava nada. Com muito
jeito ela começou a orientar Armando ensinando-lhe tudo que aprendeu com o
homem que quase destruiu sua vida. Descobriu que o que ela sentia na lavanderia
com o cafajeste não era nada comparado com o que ela sentia com o marido. Com
Armando era puro amor.
Dois anos
se passaram, ela grávida de oito meses, o amor do marido a fez compreender o
quanto era amada, se apaixonou de tal forma pelo marido que tinha um medo pavoroso
de perdê-lo.
Ele nunca
tinha perguntado o porquê dela fugir de casa, e ao tentar explicar ele não deixava
da boca do marido só ouvia palavras de carinho. Sua paixão pelo marido era
intensa, pura uma doação de um para o outro. “E como ela o amava!” Dizia para
si. Mas esse amor trouxe em seu coração um medo intenso de perdê-lo.
Em um dia
qualquer da semana com consulta marcada foi para a clínica fazer pré-natal,
logo após ao sair viu o Guto na porta, estava-lhe esperando, quando ele se
aproximou dela o feto em sua barriga começou a chutar, mexia tanto que parecia
querer sair da barriga da mãe. Aproximou-se e tentou beijá-la, sua repulsa foi
tão grande que quase vomitou em cima do cafajeste. Ele lhe disse:
“Vou te ensinar como fazer amor com uma grávida.”
Sofia
conseguiu recuperar a calma e marcou para os dois se encontraram em um galpão
que ela conhecia na Cidade da Alegria, um bairro afastado do centro da cidade.
Marcou para o outro dia.
Em casa
fez de tudo para seu marido não aperceber o que estava acontecendo com ela, o
seu desespero íntimo.
No outro
dia esperou o marido sair para o quartel, e foi para o encontro. Chegou cedo e
ficou esperando. Guto chegou e se aproximou sorrindo, e foi logo dizendo:
“Eu sabia que você viria me encontrar, estava
sentindo de falta de mim, sua safada?”.
Quando
ele estava uma distância de 5
metros seu feto começou a mexer-se, ela alisou a
barriga, abriu a bolsa sacando uma arma e não dando tempo para o cafajeste
correr ou gritar. Sofia descarregou o pente de balas em cima do marginal, ao
acabar os projéteis ela se aproximou do corpo e cuspiu. Entrou no carro, seu
neném estava tranquilo, ela também.
CAPÍTULO
VIII
O tenente
acabara de chegar do quartel e não encontrou Sofia, sentou no sofá com as mãos
na cabeça, seu olhar perdido tristemente na parede da sala. Dois dias antes lhe
vieram contar que Guto estava na cidade. Provavelmente Sofia saiu para
encontrá-lo. Ela não tinha motivo para sair de casa, não que ele soubesse.
Bateu-lhe um desânimo tão grande parecendo que o chão estava se abrindo para
engoli-lo. Ouviu o barulho do portão da garagem se abrindo, esperou.
Sofia
entrou na sala e lhe abraçou por um longo tempo e depois lhe disse:
“Matei o ordinário”
Não entendeu, acreditou que tinha ouvido
errado. E quando ele a viu tirar da bolsa arma que ele guardava com todos os
cuidado dentro do guarda-roupa, entendeu o que ela tinha dito com o, matei o
ordinário!
Entregou-lhe
em suas mãos. O tenente segurou a automática ainda quente, cheiro de pólvora
exalava dos canos. Pensou rápido, levou a mulher para o banheiro e lavou as
mãos da esposa com uma solução química, a levou para o quarto e lhe disse:
“Vou cuidar de tudo”
Jogou a
arma na solução para tirar o cheiro de pólvora. A limpou e guardou. Não podia
deixar que a mulher fosse acusada do crime, ainda mais grávida. Qualquer coisa
iria dizer que foi ele que matou o cafajeste. Sofia não aceitou isso:
“Em hipótese alguma vou aceitar
que você assume meu crime”.
Foi firme em sua voz. E
disse-lhe:
“Se
alguém tem de pagar pelos erros cometidos essa pessoa sou eu”.
Souza compreendeu sua mulher.
Perguntou:
“O corpo, onde está?”
Ao saber
do local se dirigiu para lá, limpou a área tirando todos os vestígios,
principalmente as cápsulas vazias da arma usada, as marcas dos pneus do carro
da esposa. Pegou o corpo e o levou para um pasto afastado do lugar onde o rapaz
foi morto, e o enterrou em uma cova profunda, não sem antes jogar gasolina no
corpo e vê-lo torrar totalmente. Foi criterioso, teve o máximo cuidado de
observar toda a área cuidadamente.
FINAL
Dias se
passaram e nada sobre a morte do indivíduo nos jornais, parecia que ninguém
sentia falta de semelhante criatura. Souza tranquilizava Sofia dizendo-lhe que
jamais alguém iria descobrir o corpo, e se descobrisse, não tinha como achar
quem o matou.
Quinze
dias após esses acontecimentos nasceu o filho de Souza e Sofia, os parentes
vieram para cumprimentá-los, esqueceram-se de tudo, Disse-lhes:
“Se ele amava a mulher, não seriam eles que
ficariam contra. O casal estava feliz, era isso que importava para toda a
família”
O tempo é
milagroso e curam feridas profundas. Anos se passaram Souza e Sofia agora com
quatro filhos, o mais velho com 12 anos. O Coronel Armando Nogueira Feliciano de Souza assumira
um cargo importante no comando de Comunicação do Exército Brasileiro.
FIM