terça-feira, 5 de outubro de 2010

O ESPELHO E O BATOM


PRIMEIRA PARTE: Renata, 24 anos, graduada em administração pela UFF, morena de cabelos encaracolado, olhos negros e intensos, livres em seus pensamentos, livres dos prés familiares e outros conceitos. Solteira, se estava com vontade de ir ao um bar tomar uma cervejinha com os amigos não pestaneja, ia. Vontade de dançar, ir na balada? Ia. Criada livre. Isso após sair da universidade. Pois, quando nela, sua mente era voltada para os estudos, foi e continua sendo assim. Inteligente, quando graduada passou em um concurso público. Poderia ser qualquer coisa, ela sabia disso, todavia, tornou-se mais uma funcionária governamental.

Antes devo dizer que ela namorava, mas sem se prender a ninguém, dizia que poderia atrapalhá-la nos estudos. Dizia isso com experiência, pois, em seu primeiro ano de faculdade apaixonou-se por um rapaz do quarto ano de direito. Perdeu o ‘selo’ de validade (que fique bem claro que não é a minha intenção usar de eufemismo em colocar selo em vez de hímen, pois, ainda ouço em pleno século XXI nas conversas de muito jovens a idéia que para haver felicidade e um casamento duradouro a mulher tem de ser casta, todos sabemos que a felicidade não está encruada em uma pele que pode ser elástica ou não)

Voltando para a paixão da Renata no seu primeiro ano de graduação. Foi um amor intenso para a ela, para ele foi um amor mais carnal, mais uterino. Por azar; não, por inexperiência ela não se precaveu, ficou grávida. Grávida e sozinha, foi o que lhe disse o seu namorado imbecil. Com a ajuda de amigas foi em uma clinica de fundo de quintal e fez o aborto, três meses, foi obrigado assassinar seu filho. Isso era o que ela dizia para si mesmo durante algum tempo. O que ela poderia fazer? Digam-me.

Com o advento do namoro, sua gravidez, sua falsa paixão, a suas notas caíram vertiginosamente, algo que jamais tinha acontecido em sua vida estudantil. Após ela ter colocado a sua vida em risco na clinica clandestina, centrou-se em si mesmo. Não deixou que nada a impedisse mais de crescer como ser humano e em sua carreira planejada. Formou-se.

Como funcionária federal tinha um ótimo salário, morava em um bom apartamento no centro de Angra dos Reis, carro do ano. Ainda não tinha pensado em se ligar a ninguém. Pensava sim, em fazer doutorado em sua área de formação.

SEGUNDA PARTE:Em um sábado a tarde uma colega ligou para ela e marcaram sair a noite, ir em um baile no Clube Aquidabã. Deu-se a noite, já no clube, músicas eletrônicas, bebidas, um cara, beijos, amasso, excitações. Levou o rapaz para o seu apartamento, fato que não era normal, porém, não raro. Meses sem fazer amor, loucuras na cama durante horas. Cometeu a infantilidade de não se precaver, seu segundo, talvez, pode até ser, o terceiro erro em sua vida.

Renata, acordou, olhou para o lado da cama, o cara não estava. Ela nem sabia o nome, levantou meia trôpega, grogue. E quando entrou no banheiro foi direto para a pia, lavou o rosto e ao levantar a cabeça e ao olhar para o espelho, chorou.

“Mas uma com AIDS para me fazer companhia na porta do inferno”

No inferno ela entrou e permaneceu durante meses, a solução foi o coquetel de drogas fortíssimas, exames em diversas clínicas. Pegaram o criminoso uma semana depois do acontecido, o infeliz tinha praticado o crime com diversas garotas na cidade. O desgraçado era realmente aidético: soropositivo. Disse para a polícia que estava se vingando da mulher que lhe passou o vírus.

Ela não sofreu sozinha com a possibilidade de está com o vírus, seus familiares, os poucos amigos que sobraram também sofreram. Teve de viver com preconceitos e o afastamento de pessoas que ela pensava que eram seus amigos. Quase um ano no inferno! E ao ser constado que ela não era soropositivo, recebeu de novo a sua vida de volta.

TERCEIRA PARTE: Foram anos de traumas, pensando no tão malfadado dia. E como era de esperar, ou não, casou com um amigo de infância que há anos lhe faziam declarações de amor e ela não lhe fazia caso. Mas em seus dias de desesperos, era ele que ficara ao seu lado, dias após dias o seu amigo estava lá, dando-lhe força. E descobriu que Jardel era o homem que ela queria passar os restos dos seus dias. Casou-se, hoje tem dois filhos. Fez o doutorado em Administração Pública. Do passado só lembranças de dias felizes. Renata não ‘si’ admitia em pensar de outra forma.

Kaká de Souza

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