domingo, 10 de outubro de 2010

O CONFORMADO

-Vou largar aquela desgraçada

-Porra cara, há horas que você diz a mesma coisa.

-Não posso aceitar, corno não!

-Corno você é, corno será, cria juízo merda.

-Corno é o seu pai, filho da puta.

Horas as mesmas palavras, palavrões trocados entre eles. Essas discussões sem sentido se passavam no botequim do seu Joaquim, lugar sujo, com torresmo insossos e gordurosos, pingas de garrafões, lugar ideal para o encontros de bêbados, tipo os dois que insistia em não sair do local. Seu Joaquim já acostumado, esperava.

-Como ela pode fazer isso comigo João, me colocar chifre nos cornos?

-Mulher é assim mesmo Chico, são umas ordinárias.

- A minha não.......até hoje.......até.

-Não era, é assim mesmo.....um dia ela vê um cara, e cisma, e dá para ele. Pronto: mais um corno na área.

-Vou largar dela.

-Vai nada.

-Então vou matar os dois

-Mata nada

-Mato!

-Olha Chico, quando você pegou os dois na tua cama, você fez o quê?

-Nada

-Nada? Saiu chorando a minha procura e me trouxe aqui para tomar pinga

-Não é seu Joaquim?

-Sei não, briga entre marido e mulher eu não meto a minha colher.

-Não mete porque você é um corno também

-Corno não! Corno é o seu amigo

-Não precisa me esculhambar seu Joaquim, sou corno só hoje

-Vou matar eles

-Mata nada

- E os meus filhos?

-Tá vendo, conforme-se com os galhos

-Conformo não

-Conforma sim

Joaquim olhava para os dois bêbados e ria pensando na situação. Chico morava com uma

potranca e não tinha condição de por nela um cabresto.

-Sou um infeliz

-É não Chico, você tem boa companhia durante a noite em sua cama

-Seu porra, está me sacaneando?

-Nada disso amigo, não é verdade?

-Então, lavou, tá nova.

-Võ matar eles

-Calma Chico, só dói quando nasce, igual a dente.

-Deixa de deboche comigo seu filho-da-puta.

- Deboche nada

-Não é verdade seu Joaquim? Só quando nasce, como o dele está enorme.

-Não sei de nada.

Disse e saiu de perto olhando de soslaio para os dois. Chico a pegou com outro na cama no dia da final da copa dos EUA. O Brasil foi treta. O Brasil é penta há muitos, e continua sendo assim. Quando se lembra da sua cornidade, vem chorar no botequim. É sabido por todos que a mulher lhe fantasiava a cabeça. E, é só lembrar disso para encher a cara de pinga com o amigo. Chico falava em matar, João brincava com ele. No final de tudo os dois saiam bêbados e cambaleando do bar.

-Chico, vamõ simbora

-Vou não

-Vamõ sim, já é tarde.

-Inté seu Joaquim

-Inté.

Seu Joaquim fechou as portas do botequim e foi dormir. Um dia normal.

Kaká de Souza

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Mais um dia normal no botequim do seu Joaquim, assim como em muitos em todo o Brasil, seja por causa das mulheres enfeitando a cabeça de muitos Chicos por ai ou pelos mais variados motivos.

    ResponderExcluir