domingo, 3 de outubro de 2010

Espírito de jumento

Dia 3 de outubro, dia de eleição, faltando 30 minutos para sair e votar. Decido mudar o meu voto para presidente. Pode parecer estranho, mas não é. Escolho outra mulher. Trabalhador tem que defender trabalhador. Devo explicar, com a possibilidade de reparar a injustiças de governos neo-liberais passado, falo do fator moderador que me usurpou mais de 39% do salário. E o homem que se diz trabalhador fez? Vetou. Ai, tu deves está pensando sobre a minha personalidade. Esse cara não tem opinião formada! Não tenho, e não faço a mínima questão de ter. Dou-me o direito de mudar de opinião, eu penso, repenso." Despenso".

Abro o portão para ir votar, em frente, à rua suja, foi invadida por santinhos de políticos. Brigar com quem? Democracia tem dessas coisas, uns não gosta, digo da democracia.

Preguiçoso assumido em praticar a minha cidadania na hora votar, transferi o meu direito para o colégio defronte à minha casa. Atravesso a rua e voto. Muito bom, não é verdade? E tenho que pensar em quem vai governar a minha vida por anos. Sinto arrepio em dizer isto: governar a minha vida. Mas pensa bem, o sujeito irá legislar sobre a minha minguada aposentadoria, cortar meus direitos adquiridos durante anos. Ele governa a minha vida ou não?

Na portaria do colégio quem eu vejo? O vereador S*, em seu segundo mandato na câmara do município*. Trabalhamos muitos anos na mesma empresa siderúrgica. Éramos operadores de máquinas, mais tarde tornar-me-ei chefe dele (pau-mandado) do departamento, lá trabalhamos, lá brigamos.

Tenho de contar, minha memória cobra isso. A área que trabalhamos foi famosa entre a década de 70, 80 e 90 por ter trabalhador brigador por seus direitos. Nas greves do final do século XX, estava lá o nosso departamento tomando a frente, bons líderes surgiram nesses confrontos, principalmente na área sindical. Lembro do Lopes, do Elmo e muitos outros que hoje estão no ostracismo intencional.

Devo esclarecer que a área a qual trabalhamos, em seu início de construção, alguém enterrara um corpo de jumento no centro da oficina. Dizem, não eu. Isso acarretou em uma procissão da chefia em sua homenagem. Primeiro o gerente que tem de fazer juramentos a o Deus jumento. Isso são os piões quem diz. Mas pensando bem nisso, da até para acreditar, pois, a burrice impera no meios deles. Digo com experiência própria, fiz parte por algum tempo desse grupo.

Não importava se a pessoas que pegasse a vaga na supervisão fosse branco, negro ou amarelo ou tivesse outra religião além da católica, que é muito mais fácil (eu acho) do espírito enterrado no piso apoderar-se do seu corpo. E mesmo sendo protestante conhecedor e leitor assíduo da bíblia, quando na chefia modificava-se. O espírito do jumento assumia o seu lugar de direito quase consuetudinário. E o individuo se transformava, dá nomes para serem demitidos, vigiavam entre as colunas da oficina para ver quem estavam parados e em grupos. Não sei como deve estar hoje, só sei que entre a década de 80 e 90 tivemos diversas greves por reivindicações justas. Era quando o espírito de jumento agia e mostrava a sua pior face, pois, após as greves, o encosto incorporado em certas pessoas da divisão anotavam os nomes dos seus desafetos, mesmo que esse trabalhador fosse um excelente profissional, não importava, mandava-os embora. E essas chefias tomada pela entidade enterrada no centro da oficina ficavam rindo enquanto os trabalhadores eram chamados no escritório para serem mandados embora.

Como está entidade se manifestava e apoderava do corpo dos paus-mandados? Não sei realmente, só sei que quando o infestado chegava perto do trabalhador com medidas coercitivas e algumas até radicais, o trabalhador sabia como se defender.

A entidade em sua pior forma de paus-mandados defendia o aquário por eles criado e com seus peixes insignificantes.

Em muitos casos de confecções de peças para equipamentos quebrados e em manutenção em outros departamentos da Usina* e que traziam prejuízo enormes para a empresa, o pião dava o seu sangue para que o prejuízo fosse o menor possível, mesmo tendo que corrigir os erros de projeto e ordens por essa entidade burra. E digo mais, mesmo com a empresa com a modernidade das ISOs, a qual obrigava a empresa a ter em seus quadros chefes com no mínimo o 2º grau técnico, o encosto gostava disso, pois, a manifestação vinha em forma de nariz empinado e desprezo pela base da pirâmide. Chefe com cursos superiores e graduados em diversas áreas. Tinha até advogado, esses eram os piores.

O departamento sobreviveu e vive até hoje devido o grupo de homens que não aceitava humilhações em sua dignidade profissional.

Porque estou relembrando isso? Memórias, memórias ao ver o vereador S*

Esse sofreu nas mãos dos paus-mandados, e sem me omitir, também sofreu na minha, eu fiquei um bom tempo com o espírito incorporado. Em minhas memórias surgem fatos há muitos esquecidos. Lembro-me que S* em seu bairro*, fazia um trabalho social muito bom na comunidade. Constatei isso pessoalmente. Grande sujeito, grande e magrelo, feio pra burro. Inteligente, entrou na universidade, trabalho na Usina*, trabalho em sua comunidade. Quase não dormia. E quando no serviço, no turno, sua vida era ficar pelos cantos dormindo. Foi pego diversas vezes, esporro......esporro. O que se ouvia sobre ele da boca dos incorporados? Tem de mandá-lo embora, é muito preguiçoso.

Tentou entrar no legislativo através da eleição, não conseguiu. Os incorporados riam de sua pretensão política. Tentaram queimar o seu filme em diversas oportunidades. Esqueceram que anos atrás tivemos um vereador saído do mesmo departamento que S*, a entidade não os deixavam pensar.

S* vivia assim, entre o trabalho comunitária e a Usina*, tornou-se presidente da associação de moradores em seu bairro devido o trabalho sério praticado por ele. Na empresa não se comprometia, isso é lógico e evidente.

Quatro anos depois tentou de novo uma vaga de vereador na câmara da sua cidade, foi eleito. Aquele sujeito “feio e preguiçoso”, segundo os paus-mandados dizia, saiu da oficina direto para a Câmara Legislativa. Não acreditaram, a entidade enterrada no piso não os deixavam pensar de outra forma.

Foi reeleito, e como bom político que agora ele é, ou sempre foi, não nego sua inteligência, reuni os seus antigos companheiros de trabalho duas vezes por ano em seu sítio, mata um boi e faz churrasco para a turma. Dizem, não sei, que alguns ex-infestados não são convidados.

Memórias, memórias. Tudo passa como um filme em minha mente. Entro no colégio, vou para a sala onde é a minha seção, e pratico o meu direito de cidadão.


Kaká de Souza

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