ONTEM: ALIENAÇÃO PARENTAL (1)*
Inicio da década de 80, saindo da loucura, liberdade ainda vigiada em minha cidade: Volta Redonda. Foi assim que entrei em uma grande siderúrgica e lá conheci Álvaro rapaz de olhos vivaz, um grande coração, parceiro para qualquer instante de sua vida. Tornamo-nos grandes amigos, tínhamos a mesma idade, o mesmo ideal: ser feliz. Certo dia na hora do almoço, ainda com o marmitex na mão Álvaro virou para mim e murmurou: “Aldo,.........estou apaixonado” quase engasguei com a gororoba servido pela empresa. Como?! Indaguei. Disse-me: conheci uma garota sensacional ontem e vou casar com ela. Ele era assim, intenso, sensível. Eu conheço? Perguntei sabendo que a resposta era não, pois, tínhamos os mesmos contatos femininos. Não, mora do outro lado do Rio Paraíba, no Retiro. Chama-se Ana. Disse-me. Como eu imaginava não conhecia essa tal Ana.
Ele me apresentou a garota, confesso que não gostei da menina, parecia ser mimada demais, entretanto, fiquei em silêncio para não ferir a sensibilidade do meu camarada. Álvaro ficou tão apaixonado que não mais encontrávamos fora da empresa com a frequência de antes. Vivia na casa da namorada. Aconteceu! A garota ficou grávida, tiveram de casar às pressas. Meses após o casamento senti que Álvaro começou a mudar seu jeito de ser, ficava nervoso por quaisquer motivos. Como amigo fui conversar com ele. Chorando disse-me que tudo que ele pensava sobre Ana tinha mudado, ela era mimada, volúvel, inconstante. Reforçou:
“O Sr. Armando, pai de Ana era funcionário da mesma empresa a qual trabalhávamos, ele ganhava muito bem, fazia todos os gostos da filha única, como ele morava com os sogros não podia abrir a boca para nada. O Sr. Armando, seu sogro, até que era uma boa pessoa, porém, a jararaca da sogra que comandava tudo em casa”
Os sogros moravam de aluguel em um bom apartamento. A sogra de nome Ângela não “achava necessário comprar um imóvel próprio, dizia”
O filho nasceu, deram-no o nome de Afonso. Deram por que o Álvaro não escolheu, ficou por conta dos sogros e da mulher.
No trabalho eu via a mudança acontecer com meu amigo em minha frente, Álvaro não mais conseguia manter o mesmo ritmo de trabalho. Como trabalhava-mos em regime de turno, de madrugada eu via o cansaço estampado em seu rosto.
“O que esta acontecendo Álvaro? Perguntei, pois nossa área era por demais perigosa para uma pessoa atenta, imagina para alguém totalmente grogue como se encontrava Álvaro. Disse-me que Ana não o deixava dormir, forçava-o a sair durante o dia e quando em casa era a sogra que o perturbava. Brigas entre eles era constante, entre o genro, mulher. O Afonso crescia, e a preocupação de Ana era gastar o dinheiro do marido; que não era grande coisa. O sogro bunda-mole não fazia nada a não ser concordar em tudo com a mulher. Seu minguado e curto salário a sogra mandou a filha administrar, ele não suportava mais. Disse-me chorando”
Suportou durante quase três anos essa vida. Certo dia não aguentou, pediu a separação. “Ela discordou, a sogra entrou no meio defendendo a filha: “Se você separar da minha filha nunca mais verá o Afonso, disse-lhe.” Nada disso, eu tenho a lei do meu lado”. Disse Álvaro para a família da mulher. No entanto, a lei podia estar do seu lado, mas, “A Alienação Parental” não: (termo hoje muito conhecido pela lei e pelos psicólogos, há vinte anos não se falava nessa alienação psicológica praticada nos filhos por alguns pais separados)
Saiu de casa. Começou seu suplício, a covardia da sogra e de sua ex-mulher chegou ao extremo de não deixá-lo ver o filho nem da janela. Ele pagava pensão conforme a lei, porém, não o deixava ver o pequeno Afonso. A crueldade chegou a tal ponto do Álvaro ir ver o filho, pois não aguentava tamanha saudade e na porta da ex-mulher não o deixava ver o pequeno, ele insistia, forçava, a polícia chegava e ouvia mentiras sobre o meu parceiro de trabalho, levava-o para a delegacia. Esta situação durou meses.
Álvaro mudou, com os nervos abalados teve que tomar remédios de tarja preta. Tornou um ser amargo, rancoroso. Saiu do trabalho, se perdeu na desesperança. Nada mais dava certo para ele. Os “amigos” desapareceram. Inclusive eu, não pela sua situação precária, casei também, com filho pequeno. Separamo-nos de tudo, infelizmente.
Após muita cabeçada Álvaro arrumou uma mulher maravilhosa, de boa família, digo isso por que conhecia a garota desde que era criança. Fiquei feliz em ficar sabendo que ele tinha casado com Agnes. Certo dia nos encontramos no centro da cidade e perguntei sobre o pequeno Afonso:
Disse-me que tinha deixado o filho descobrir a verdade quando crescesse. E o.......Tempo passou e o senhor Alberto pai de Ana tinha aposentado assim que Álvaro tinha saído de casa. A família não pensou em adquirir um imóvel, gastaram a rodo o capital do antigo sogro de Álvaro. Acabou o dinheiro, pecúlio da aposentadoria baixa, a família faliu. Mudaram para uma casa pequena. Sem dinheiro Ana teve de trabalhar. Afonso cresceu ouvindo horrores sobre o pai. Em seu imaginário o pai era um marginal, um doente.
Entretanto, ele foi conhecendo a avó e a mãe. Quem estava mentindo? A mãe arrumava um homem por semana, à avó falava da vida de todos. Viu os erros em sua frente, as mentiras foram aparecendo. Afonso agora estava com mais de vinte anos e só via o pai de longe, nunca tinha conversado com ele.
Álvaro estava agora com três filhos, sua vida deu uma guinada, um bom trabalho, três filhos maravilhosos, uma esposa amorosa que dava-lhe sentido na vida. Parece um paradoxo! Ele se tornou um fiel servidor de deus de uma igreja protestante. Estava feliz.
Após vários anos fui a sua casa para conversamos e disse-me feliz que o filho Afonso agora não sai de sua casa. Tornaram-se grandes amigos, e me contou como aconteceu:
Certo dia ouviu a campainha da porta e ao abrir viu em sua frente o filho Álvaro. Rapagão forte, a sua cara quando jovem abraçaram-se e não falaram nada, a presença dele em sua frente dizia tudo.
Afonso arrumou uma namorada e fez igual ao pai, arrumou um filho. Álvaro disse para ele assumir o filho e a mãe. Fez o que o pai mandou. Hoje o filho de Afonso chama a Agnes de avó. Mas nem tudo melhorou para Álvaro, muito sofrimento enfraqueceu seu coração sensível. Ficou marcado para sempre pela dor.
Esse conto foi tirado do livro CANCRO SOCIAL, de Kaka de Souza.
Inicio da década de 80, saindo da loucura, liberdade ainda vigiada em minha cidade: Volta Redonda. Foi assim que entrei em uma grande siderúrgica e lá conheci Álvaro rapaz de olhos vivaz, um grande coração, parceiro para qualquer instante de sua vida. Tornamo-nos grandes amigos, tínhamos a mesma idade, o mesmo ideal: ser feliz. Certo dia na hora do almoço, ainda com o marmitex na mão Álvaro virou para mim e murmurou: “Aldo,.........estou apaixonado” quase engasguei com a gororoba servido pela empresa. Como?! Indaguei. Disse-me: conheci uma garota sensacional ontem e vou casar com ela. Ele era assim, intenso, sensível. Eu conheço? Perguntei sabendo que a resposta era não, pois, tínhamos os mesmos contatos femininos. Não, mora do outro lado do Rio Paraíba, no Retiro. Chama-se Ana. Disse-me. Como eu imaginava não conhecia essa tal Ana.
Ele me apresentou a garota, confesso que não gostei da menina, parecia ser mimada demais, entretanto, fiquei em silêncio para não ferir a sensibilidade do meu camarada. Álvaro ficou tão apaixonado que não mais encontrávamos fora da empresa com a frequência de antes. Vivia na casa da namorada. Aconteceu! A garota ficou grávida, tiveram de casar às pressas. Meses após o casamento senti que Álvaro começou a mudar seu jeito de ser, ficava nervoso por quaisquer motivos. Como amigo fui conversar com ele. Chorando disse-me que tudo que ele pensava sobre Ana tinha mudado, ela era mimada, volúvel, inconstante. Reforçou:
“O Sr. Armando, pai de Ana era funcionário da mesma empresa a qual trabalhávamos, ele ganhava muito bem, fazia todos os gostos da filha única, como ele morava com os sogros não podia abrir a boca para nada. O Sr. Armando, seu sogro, até que era uma boa pessoa, porém, a jararaca da sogra que comandava tudo em casa”
Os sogros moravam de aluguel em um bom apartamento. A sogra de nome Ângela não “achava necessário comprar um imóvel próprio, dizia”
O filho nasceu, deram-no o nome de Afonso. Deram por que o Álvaro não escolheu, ficou por conta dos sogros e da mulher.
No trabalho eu via a mudança acontecer com meu amigo em minha frente, Álvaro não mais conseguia manter o mesmo ritmo de trabalho. Como trabalhava-mos em regime de turno, de madrugada eu via o cansaço estampado em seu rosto.
“O que esta acontecendo Álvaro? Perguntei, pois nossa área era por demais perigosa para uma pessoa atenta, imagina para alguém totalmente grogue como se encontrava Álvaro. Disse-me que Ana não o deixava dormir, forçava-o a sair durante o dia e quando em casa era a sogra que o perturbava. Brigas entre eles era constante, entre o genro, mulher. O Afonso crescia, e a preocupação de Ana era gastar o dinheiro do marido; que não era grande coisa. O sogro bunda-mole não fazia nada a não ser concordar em tudo com a mulher. Seu minguado e curto salário a sogra mandou a filha administrar, ele não suportava mais. Disse-me chorando”
Suportou durante quase três anos essa vida. Certo dia não aguentou, pediu a separação. “Ela discordou, a sogra entrou no meio defendendo a filha: “Se você separar da minha filha nunca mais verá o Afonso, disse-lhe.” Nada disso, eu tenho a lei do meu lado”. Disse Álvaro para a família da mulher. No entanto, a lei podia estar do seu lado, mas, “A Alienação Parental” não: (termo hoje muito conhecido pela lei e pelos psicólogos, há vinte anos não se falava nessa alienação psicológica praticada nos filhos por alguns pais separados)
Saiu de casa. Começou seu suplício, a covardia da sogra e de sua ex-mulher chegou ao extremo de não deixá-lo ver o filho nem da janela. Ele pagava pensão conforme a lei, porém, não o deixava ver o pequeno Afonso. A crueldade chegou a tal ponto do Álvaro ir ver o filho, pois não aguentava tamanha saudade e na porta da ex-mulher não o deixava ver o pequeno, ele insistia, forçava, a polícia chegava e ouvia mentiras sobre o meu parceiro de trabalho, levava-o para a delegacia. Esta situação durou meses.
Álvaro mudou, com os nervos abalados teve que tomar remédios de tarja preta. Tornou um ser amargo, rancoroso. Saiu do trabalho, se perdeu na desesperança. Nada mais dava certo para ele. Os “amigos” desapareceram. Inclusive eu, não pela sua situação precária, casei também, com filho pequeno. Separamo-nos de tudo, infelizmente.
Após muita cabeçada Álvaro arrumou uma mulher maravilhosa, de boa família, digo isso por que conhecia a garota desde que era criança. Fiquei feliz em ficar sabendo que ele tinha casado com Agnes. Certo dia nos encontramos no centro da cidade e perguntei sobre o pequeno Afonso:
Disse-me que tinha deixado o filho descobrir a verdade quando crescesse. E o.......Tempo passou e o senhor Alberto pai de Ana tinha aposentado assim que Álvaro tinha saído de casa. A família não pensou em adquirir um imóvel, gastaram a rodo o capital do antigo sogro de Álvaro. Acabou o dinheiro, pecúlio da aposentadoria baixa, a família faliu. Mudaram para uma casa pequena. Sem dinheiro Ana teve de trabalhar. Afonso cresceu ouvindo horrores sobre o pai. Em seu imaginário o pai era um marginal, um doente.
Entretanto, ele foi conhecendo a avó e a mãe. Quem estava mentindo? A mãe arrumava um homem por semana, à avó falava da vida de todos. Viu os erros em sua frente, as mentiras foram aparecendo. Afonso agora estava com mais de vinte anos e só via o pai de longe, nunca tinha conversado com ele.
Álvaro estava agora com três filhos, sua vida deu uma guinada, um bom trabalho, três filhos maravilhosos, uma esposa amorosa que dava-lhe sentido na vida. Parece um paradoxo! Ele se tornou um fiel servidor de deus de uma igreja protestante. Estava feliz.
Após vários anos fui a sua casa para conversamos e disse-me feliz que o filho Afonso agora não sai de sua casa. Tornaram-se grandes amigos, e me contou como aconteceu:
Certo dia ouviu a campainha da porta e ao abrir viu em sua frente o filho Álvaro. Rapagão forte, a sua cara quando jovem abraçaram-se e não falaram nada, a presença dele em sua frente dizia tudo.
Afonso arrumou uma namorada e fez igual ao pai, arrumou um filho. Álvaro disse para ele assumir o filho e a mãe. Fez o que o pai mandou. Hoje o filho de Afonso chama a Agnes de avó. Mas nem tudo melhorou para Álvaro, muito sofrimento enfraqueceu seu coração sensível. Ficou marcado para sempre pela dor.
Esse conto foi tirado do livro CANCRO SOCIAL, de Kaka de Souza.
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