Cortes profundos nas costas, o chicote zune nas mãos do senhoril,
horas sob o sol, sangue escorrendo em cinde.
Sina desgraçada da pele diferente que sofre com açouteira diabril,
surras não o obrigará a ser mais um escravo: um vimbunde,
preso ao tronco, o mesmo que seu pai se extinguiu,
Recusa-se a ser um homem coisificado.
Ele sofre. Ele pensa. Ele sangra,
apanha mais, o chicote sibila nos braços do senhor, estala nas costas do negro,
dor ele não sente mais. Recusa-se! Do senhor ele zingra
Não será mais o reprodutor do homem que vendem seus filhos e denigra
A mão do homem cansa, braço ordinário que o fere e feriu os filhos do entroncado.
O chicote nas mãos do irmão negro zune, 1, 2, 3.......20 chicotada. Recusa-se!
Eles cansam. Em sua face um sorriso nubívago.
Sol escaldante queima dolorosamente a sua pele. Diz: “Refusaste-me”
Secam os sangues das feridas, seus filhos e irmãos da senzala choram suas dores.
Hoje não, hoje ele não quer morrer. Amanhã quem sabe?
Anoitece, surgem as primeiras estrelas.
A lua reluzente clareia o tronco. O negro. O supliciado
O sangue entranha no chão de terra vermelha,
Aqui nessa terra nada nascerá. “Ele queria”
A casa do senhor aparece tenebrosa em sua visão turva.
Na senzala que a muitos foi sua moradia,
choram a dor, a lua ilumina os rostos da caterva.
Nas faces dos seus irmãos ele vê as lágrimas fluindo.
Como testemunha silenciosa um azul intenso estrelado céu a fruir
Em sua visão obumbrada, a vida e a esperança acaba perdendo.
Alvorada, ainda vive, o corpo dói intensamente, o sangue volta lhe fugir
Recusa-se! Não fará mais filhos para se tornar ele: escravos, filhos mortos,
Lágrimas se misturam com o sangue espargido. Diz ele: “maldito branco”
Murmura: Recuso-me! A lua se foi, surge um alvorecer absorto.
Os negros preparam-se pra colher o fruto: café fatíloquo
São conduzidos em frente ao tronco, ele é o exemplo, negro apanha, fortifica-se o medo.
Em sua frente, olhares triste, choram a seco, entre eles já não fluíam mais lágrimas.
A vida presa ao tronco está se esvaziando, indo embora a fecundez
Recusa-se! Sua cabeça cai p’ro lado; não se acaçapas.
Os filhos, e os irmãos se revoltam enfrentam seus algozes e matam o capataz.
O senhor vai p’ro tronco ao seu lado, mortes; nos olhos maus o estupor.
Suspiro, chão vermelho com sangue do escravo, do feitor e a família do senhor,
nego-me......neg.........murmura . Os pretos choram chocho. Lamenta a sua morte e a dor.
Kaka de Souza
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