Capítulo I
Juca caiu da bicicleta e ficou estatelado no chão. Muitas gentes naquele momento faziam caminhada ou andava de bicicleta na ciclovia onde Juca estava postado no chão. Era de tardinha, e os adeptos de exercícios ao ar livre fazia daquele local uma área de lazer para jovens e idosos.
E quando Juca caiu logo criou-se um ajuntamento de pessoas ao seu redor.
-Moço, o senhor se machucou. Perguntou uma jovem abaixando ao seu lado. Tentou virá-lo, pois Juca caiu de cara no meio-fio.
-Não mexe nele! Gritaram as pessoas ao redor do corpo. A pobre moça paralisou na hora.
-Não se devem mexer no corpo de uma vítima de acidente moça, podemos até matá-lo, vamos esperar a ambulância.
-Meu Deus! A cabeça dele está sangrando. Desmaiou a mulher que tinha se aproximado e tentado mexer o no corpo de Juca.
Pronto: a confusão estava instalada ao redor do pobre rapaz. Ele parecia ter ido visitar São Pedro de tanto sangue que saia do corte em sua cabeça.
Oito minutos após a ocorrência chegou a ambulância com os paramédicos, desceram correndo procurando o acidentado.
-Cadê a vítima? Perguntou um deles.
-Lá na frente. Disseram
Foi uma pergunta até lógica, pois o corpo de Juca estava ainda rodeado de pessoas dificultando até a passagens dos socorristas. A mulher que tinha desmaiado ao ver o sangue do rapaz já estava de pé, meio tonta ainda, mas bem.
Levaram o corpo do Juca. Restos de massa encefálica misturada com sangue ficaram espalhados no canto da ciclovia.
Capítulo II
Entre a vida e a morte durante quase três meses. Coma profundo provocado pelos médicos para aliviar a pressão no cérebro; tiveram de retirar o tampão da cabeça do Juca. Com poucas chances de sobrevivência, desenganado pelos médicos que cuidavam dele. A família Silva já estava preparada para receber a notícia da morte de um dos seus membro.
Faltando dois dias para completar três meses Juca acordou, os médicos já tinha dado como certo a sua morte, porém, por mistério da vida ele sobreviveu. Ao acordar não se lembrava do acidente, e não conhecia os rostos familiares. Amnésia passageira, disseram os médicos para os Silvas. Seu braço direito e a perna também direita não mexiam. Paralisaram.
Mais 45 dias internado fazendo fisioterapia intensiva. A perna direita voltou a movimentar normalmente, entretanto, o braço direito, apesar de todas as técnicas fisioterápica moderna posto em prática não reagiu.
A família Silva pertencia a classe média alta do município de Volta Redonda, pois, sem capital não teria como manter o rapaz Juca tanto tempo internado em uma clinica particular, umas das mais caras da cidade. Estavam felizes com a recuperação do rapaz e a volta dele para casa.
Os dias, as semanas foram passando e Juca sentia-se diferente após o acidente. Não sabia o porquê, mas sentia.
De licença do trabalho: é funcionário público municipal e fazia jus a esse trabalho; não era muito de esforça-se para ganhar o pão de cada dia. E diga de passagem que não precisava, a família supria qualquer falta de “pão” se por acaso ele necessitasse.
Capítulo III
Juca tinha 29 anos, mora com os pais em uma casa confortável na Avenida Beira Rio, perto de onde ele caiu da bicicleta. Tinha um irmão mais velho, uma sobrinha de 11 anos.
Meio abestalhado desde o nascimento, dificuldade de compreensão do mundo, sem sorte no amor. Dois noivados; em um deles foi deixado no altar no dia do casamento, outro recebeu um pé na bunda antes de entrar na igreja. A noiva descobriu que ele era um tremendo “boca-aberta”
Juca estava fazendo o que mais gostava na vida, vendo TV, quando ouviu sua mãe chamá-lo insistentemente
-Juca! Juca!
-Diga mãe
-Você viu a Beca?
-Não mãe
Beca é uma cachorrinha Poodle criada como uma criança pela sua mãe. Dormia com ela na cama, só faltava sentar à mesa para fazer as refeições com família.
-Beca! Beca.
A senhora Silva chamava-a com o desespero entoando em sua voz. Juca nem ai para o desespero de sua mãe, permanecia em frente à tela da televisão enquanto a senhora Silva entrava em desespero:
-Haaaaaaa, meu Deus
O grito estrídulo de sua mãe trouxe Juca para a vida real. Levantou correndo em direção a área de serviço donde veio o grito, a senhora Silva estava debruçada sobre o corpo da Poodle, chorava em profusão.
-Olha filho, Beca está morta. Disse-lhe chorando.
Juca a olhou. Beca estava com a língua toda para fora, parecia-lhe que a cachorra foi estrangulada. Mas quem poderia ter feito isso? A idade como causa provável da morte da poodle, diziam todos os familiares.
Na família Silva à comoção foi total, 12 anos de convívio com o pequeno animal criou um vínculo tão forte que ela tinha se transformado em mais um membro. Poderia dizer que era uma Silva que faleceu. Para confirmar isso digo que Beca, como os membros da família tinha plano de saúde e foi enterrada no túmulo perpétuo da família Silva no cemitério Jardim da Saudade.
Capítulo IV
A vizinhança da família Silva estava em polvorosa, pois,gatos, pássaros e outros bichos estavam aparecendo mortos e ninguém tinha explicação e nem motivos aparente para tamanhas mortandades. E junto com isso, objetos pessoais sumiam sem que ninguém soubesse como. E tudo levava a crer que tinha um entrelaçamento entre as mortes e os objetos sumidos.
Juca sem tomar conhecimento dos últimos acontecidos em sua vizinhança saiu para fazer uma caminhada no local que meses antes lhe aconteceu o fatídico acidente. Ainda traumatizado, caminhava lentamente, de pé em pé, sua preocupação era tanta que não observou quando uma mulher veio em sua direção gritando, ele de costa só sentiu um murro no cangote:
-Seu tarado, vai passar a mão na bunda de sua mãe, seu filho da puta.
Ele caindo e a mulher agredindo-lhe com tapas e pontas-pé. Ela caiu em cima dele. E seu estupor foi intenso ao ver que seu braço direito se movimentou e começou a esmurrar a mulher, tentava segurá-lo com a mão esquerda, mas a força, a fúria da mão direita era tão intensa que a esquerda não tinha meio de segurá-la. O rosto da mulher já estava inchado e sangrando. A mulher tentou sair, mas a mão segurou o cabelo da mulher e a balançava.
-Para com isso, seu animal.
Entre um emaranhado de braços e mãos Juca ouviu uma mulher gritando e tentando separar os dois. Agora ele apanhava da outra pessoa que apareceu para ajudar. E nada da mão direita dele se soltar da mulher. Mais pessoas apareceram e vendo a mulher sendo agredida. Teve início do linchamento. Conseguiu se desvencilhar e saiu em disparada.
Consegui driblar os linchadores correndo igual um maluco pelas ruas do seu bairro. Chegou em casa, foi correndo para o seu quarto não deixando que sua mãe visse os estragos em seu corpo.
Capítulo V
Horas após o acontecimento ele ainda estava com as roupas rasgadas e sujas. As faces com sangue já tinham secado. Postado, sem entender o que tinha acontecido, olhava fixamente o braço e a mão direita. Tentava movê-lo, todavia, os dedos e as mãos com restos da pele e sangue do rosto da mulher agredida por eles não demonstrava nenhuma sensibilidade.
Saiu, depois de uma semana enfurnada em seu quarto, as feridas tinham cicatrizado. Nada que indicasse que ele tinha sofrido uma tentativa de linchamento. A senhora Silva como uma mãe compreensiva não disse nada: “Se ele quer ficar enfurnado no quarto, tudo bem”. Dizia para si e para o marido.
Vivia deitado no sofá, foi tirado da pasmaceira que tinha se tornado a sua vida, com pensamentos conflitantes e sem ainda entender ele e a sua mão. Pensava e só.
-Tem um rapaz te chamando no portão, filho
-Quem é? Perguntou sem a mínima vontade de se levantar
-Acho que trabalha na prefeitura com você. Disse-lhe
Levantou custosamente e foi atender. E realmente era um colega que trabalhava com ele na repartição. Queria saber como ele estava. Ficaram conversando por um bom tempo. Se Juca olhasse para a porta de sua casa veria a cara de horror que a sua mãe fazia naquele momento.
-Juca vem cá!
-Aguarda um pouco mãe.
-Vem aqui agora! Disse abruptamente.
Juca e o amigo não entenderam o motivo de tanta raiva na voz da senhora Silva. Despediu do colega e ao entrar em casa levou uma bofetada no rosto desferida por sua mãe.
-Depois de velho vira ladrão, seu moleque inconseqüente, seu abestado.
-Que isso mãe, ficou maluca?
-Maluca? Maluca? Disse e enfiou a mão no bolso de Juca e puxou uma carteira.
Juca não estava entendendo nada, não sabia como aquela carteira foi parar em seu bolso.
-Seu ladrãozinho de merda. Disse-lhe e jogou a carteira no rosto do filho.
-Mas mãe, não entendo..........
-Não entende! Você simplesmente enfiou a mão no bolso do seu colega e roubou-lhe a carteira.
-Juro mãe, não sei como isso aconteceu.
-Da um jeito de devolver a carteira do seu amigo.Disse e saiu chorando para o outro cômodo.
Juca olhou para a mão Compreendeu o que tinha acontecido. A mão direita roubou o rapaz, não ele. Pelo jeito a sua mãe não tinha notado esse detalhe da mão. Pensou.
Capítulo VI
Alguns dias depois desses acontecimentos a senhora Silva começou a receber varias reclamações sobre o seu filho Juca:
“Senhora Silva, o Juca fez gestos obscenos com as mãos para mim e minha filha”
“Senhora Silva a Juca está agindo igual a uma criança, quebrou várias vidraças da minha casa”
“Senhora Silva o Juca matou o meu gato”
Reclamações diversas e ameaças se tornaram diária na casa da família Silva. Juca tornou-se um problema para a família e a vizinhança.
A senhora Silva presenciou diversas vezes a pantomima que o Filho fazia com mão para os vizinhos, tentou pará-lo, conversava com ele, nada fazia com que ele parasse.
De tantas reclamações a família Silva pensou em se mudar do local, mas sabiam que levariam o problema para outro lugar. Decidiram internar Juca em uma clínica particular para tentar resolver esses transtornos psicológicos causado, (eles achavam), pelo acidente de bicicleta meses atrás.
Foi internado em uma clinica de repouso durante dois meses. Após isso aparentemente ele tinha se curado. Diagnóstico do médico e da família.
Capitulo VII
Em casa, em uma prisão domiciliar, pois a família Silva reforçou as trancas das janelas e portas. Juca ficava trancafiado, a família não queria que ele aprontasse novamente na vizinhança.
Curado totalmente! Dizia os familiares. De tanto ser mantido em cativeiro, Juca se acostumou com a situação, agora podia deixar a casa aberta que ele não saia nem para a varanda.
Em um dia da semana o senhor Silva e a senhora foram para o mercado. Juca ficou sentado no sofá, imóvel., parecia te se tornado um zumbi ou mais um objeto de enfeite na sala. Estava com o olhar fixo na TV. Quando sua sobrinha chegou encontrou ele nessa situação.
-Tio, vamos assistir um filme? Comprei essa comédia lá no camelódromo. Disse mostrando a capa para ele.
Juca nem olhou para as mãos de sua sobrinha: respondeu:
-Vamos sim. Disse sucintamente.
A garota foi no aparelho e colocou o filme. Essa intimidade era comum entre eles, alugava um filme ou comprava e assistiam comendo pipoca. Há muitos que eles não faziam isso, devido a doença do Juca. Ela se aconchegou do lado dele. Deve ter passado uns vinte minutos de filme quando Juca sente o corpo de sua sobrinha tremer, em seus lábios juvenil balbucios. O corpo da menina começa a espasmar de cima abaixo. Foi ai que ele viu sua mão direita entre as pernas da garota, tentou tirar a mão e nada. Sua mão esquerda tentou puxar a direita, não teve intento. A mão direita fazia o movimento de ir para a frente e voltar. Parecia que a menina ia ter um troço. Juca desesperado conseguiu tirar uma força do seu íntimo e a mão afrouxou-se. Foi quando ele viu os dedos cheios de sangue.
Olhou para a garota, ela estava voltando a si e o olhou ainda em transe. Ela não disse nada, saiu em disparada em direção a porta de saída.
-Mão desgraçada, deflorou minha sobrinha. Juca chorava e gemia como um louco.
-Você me transformou em um pedófilo, e com a minha sobrinha.
Saiu em direção da cozinha, lá pegou o facão e tentou cortar a mão, e quando levantou o facão para decepá-la, ela reagiu e segurou o braço esquerdo. Quanto mais ele fazia força, mais a mão direita lhe agredia tentando tirar o facão da outra mão, saiu trombando na mesa, no armário, destruiu a cozinha em uma luta desesperada da mão direita para não ser decepada. Alguns minutos depois, cansado de tanto lutar, deu o braço a torcer, soltou o facão. Foi para o seu quarto com o propósito de não sair mais.
O Senhor e a senhora Silva chegaram e ao ver a destruição da cozinha. Sabiam que o filho entrou em crise: a cura era só aparente.
-Filho, o que aconteceu? Perguntou o senhor Silva em frente à porta.
-Nada pai, deixa-me em paz.
Ele olhou para a esposa, sacudiu o ombro, e saiu.
Preocupados, pois Juca há uma semana não saia do quarto. Trancafiado, não atendia os chamados dos seus pais. O primogênito do senhor Silva foi chamado e ao sentir o cheiro de podre que saia pela fresta da porta decidiu arrombá-la. Demoraram, a porta tinha sido reforçada com chapa de aço para manter, caso fosse necessário, Juca dentro do quarto. E quando conseguiram entrar no cômodo ficaram horrorizados com o que viram. Juca estava deitado na cama entre poços de sangre já em estado de cediço. Com a garganta cortada, e uma navalha em sua mãe direita.
Na luta entre a mão direita e o Juca, perderam ambos. A família ganhou, a vizinhança...........
Kaká de Souza
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