sexta-feira, 5 de novembro de 2010

DEPRESSÃO? O que é isso?

kaka de souza

PRIMEIRA PARTE: “Recebi uma ligação as 10horas no meu trabalho; na Usina*, ao atender era um colega de uma empresa vizinha dizendo que um grande amigo nosso estava preso em uma ponte rolante, fiquei preocupado, pois, era um grande parceiro. Mais tarde o colega que presenciou a cena toda me detalhou o acontecimento, e eu imaginei o fato, segundo tudo o que tinha ouvido dele”:

Genésio estava a cinco horas preso em uma ponte rolante a mais de 30m do chão. Os amigos acompanhavam o seu desespero do piso. Os bombeiros lutavam para retirá-lo do local, várias tentativas frustradas. O local que a ponte rolante tinha estacionada era de difícil acesso, diria até mais, de extrema dificuldade. Genésio estava agarrado dentro da cabine chorava e gritava de pavor.

Como chegou a esse ponto? Confesso que não sei, mas vou tentar explicar como tudo aconteceu:

Genésio é um mulato de 1,90m. Digo mulato como poderia dizer moreno, pois, seu cabelo o denunciava a mistura de raças que é muito comum entre nós. Bem, nada disso importa para o que vou narrar.

Eu e Genésio trabalhávamos em uma empresa que fabrica tubos de aços de diâmetros variados que vão de 20cm a 4m e o comprimento determinado pelo comprador. Fornecedora de tubos para a Petrobras e prefeituras em todos os estados do Brasil. Genésio trabalhava a vinte anos nessa empresa como operador de ponte rolante.

Devo ou não devo explicar o que é uma ponte rolante? Devo. È um equipamento móvel que se movimenta sobre trilhos em um galpão, pode ser pequena, ou grande, depende do que a empresa produz. A que Genésio trabalhava é enorme, digo é porque ela ainda esta no mesmo local, Genésio, acredito eu, jamais poderá chegar perto de uma. A ponte rolante que ele trabalhava trafega em um galpão aproximadamente de 300 metros de cumprimento por trinta de largura, ou mais. Isso não é tudo, a ponte fica em uma altura de mais de quarenta metros. Para se comunicar com o operador da ponte usa-se um rádio para entrar em contato. E para subir na ponte, tem escadas nas extremidades do galpão. Não sei se estou sendo claro. Vamos lá, Genésio aparentemente era uma pessoa normal, brincava com os amigos, ria. Tomava cerveja com os companheiros, batíamos longos papos. Não tinha nada que o desabonasse a operar uma ponte rolante. É sabido que para operar uma, os testes são rigorosos, com testes psicológicos, eletroencefalograma etc. exige saúde perfeita do trabalhador, uma ponte rolante nas mãos de uma pessoa doente podem causar acidentes sérios no ambiente de trabalho, isso tem de ser, pois, um erro do operador pode ser fatal para quem trabalha abaixo dela.A movimentação de peças que podem chegar a mais de trinta toneladas exige pericias nas mãos de quem a opera.

SEGUNDA PARTE: Mas voltando para o nosso amigo Genésio, ele tinha quarenta anos quando travou-se na cabine. Casado, com uma filha de quinze anos. Para todos nós, os companheiros de trabalho, ele era um homem feliz no casamento, e no trabalho. Ou seja, nada errado com ele.

Aquele dia foi diferente, não se sabe como ele subiu e não conseguia mais descer. Chefes ligando para o rádio da ponte para ele atender determinada área e nada. A atenção se voltou para a cabine que presumidamente era local que ele deveria estar. Ele parou no meio da oficina; estancou. De nada adiantaram gritos abaixo, pois, a altura não permitia que ele ouvisse ou que nós ouvíssemos ele. O que aconteceu? Todos se perguntavam entre si. A balbúrdia estava formada: bombeiros; médicos; os responsáveis pela segurança no trabalho, tudo para atender o nosso amigo. Até que vimos que Genésio estava em prantos dentro da cabine da ponte. E como chegar lá? Ficava a pergunta, pois, a ponte estava afastada das duas escadas. Foi preciso requisitar um guindaste em outra empresa para retirá-lo. E demorou algumas horas até o transporte do equipamento para a nossa oficina. O tempo parecia ter parado, o medo e pavor estava estampado em nosso rostos, medo que ele não aguentasse e pulasse lá de cima.

Conjecturamos sobre tudo, será que ele está se separando? A mulher o chifrou? Essas perguntas e outras tantas circulavam entre nós.

“Síndrome do Pânico”

TERCEIRA PARTE: Foi o que ouvimos da boca do médico ao retira-lo após aplicar-lhe um sedativo forte, pois, estava em gritos dentro da cabine. Essas palavras soavam em nossa cabeça como uma piada. Como pode ser isso? Síndrome do Pânico; coisa de viadinho, de filhinho de papai. Foi o que dizíamos em nosso meio na época. Que é até perdoável, doença nova em nosso meio. E quando ouvimos isso do médico soou para como uma gozação para todos nós.

Até mesmo o nosso amigo Genésio dizia isso para a turma na hora do almoço, quando jogávamos conversa fora. Síndrome de pânico é uma viadagem. E não era assim, era até melhor para ele se assim fosse.

Essa doença chegou tão forte na vida do nosso amigo e se ele não tivesse o apoio da esposa não sobreviria.

Quando ele pôde receber visitas, fomos eu e a turma de trabalho. A sua esposa virou para nós e disse: ele está dentro do quarto há uma semana, tem medo de tudo, chora o dia inteiro. Em nossa imaginação ficava até difícil de imaginar um homem de quase dois metros chorando de medo.

Seus cabelos negros, sem fios branco, agora, totalmente branco.

Sua mulher disse-nos que o levou para consultá-lo de ônibus, teve que descer no meio do caminho, pois, o Genésio chorava em desespero. Não conseguia mais sair de casa. Entrou de licença médica para tratar-se.

Sua qualidade de vida hoje em dia até que melhorou, após tomar anti-depressivo fortíssimo. Nosso antigo companheiro de trabalho está se fortalecendo. E o uso sempre como exemplo quando ouço algumas besteiras sobre determinada doença.








FIM


2 comentários:

  1. Acima de tudo, um ensaio. Gostei. Ei, em parceria com outros caras, escrevo no blog: totolunatico.blogspot.com - se der, me segue nesse também; e a gente te segue por lá. Abraço!

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  2. Claro que te seguirei Sakuma, um abraço

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