“MINDSET”

“Sei, tu achas que poesias é coisa de mocinha, acha isso mesmo? Que isso meu rapaz! Poesia faz parte de nossas vida, o quê? Não da tua? Não fala isso, pensa bem; se você namora, ama, faz amor, isso é uma poesia que chega a ser filosófica. O quê? Tu não gosta é das minhas? São ruins? Não tem estilo? Ah! Sim, entendi, eu não tenho estilo. Explique-me; qual seria a maneira adequada, o mais estiloso? Quem sabe não seria o estilo de Florbela Espanca? Não conhece? É uma pena. Então deixa eu ver, Clarisse Lispector? Só ouviu falar? Nunca a leu? É complicado. E Fernando Pessoa? Augustos dos Anjos? E o Cancioneiro? Canção? Nem pensar. Não? Nem nunca ouviu falar sobre eles? Que pena. Vamos voltar ao assunto dos meus textos, como você disse, já os leus? Não? Ah sim, essas palavras, sobre o abismo, sim, sobre o poema ‘Uma pedra em seu caminho’, claro, aquele que plagiei uma frase da poesia de Carlos Drummond, “No Meio do Caminho” não conhece? E José? Também não? Cantei não, plagiar é copiar, deixa pra lá. Usei algumas palavras difíceis? Mas você deve ter um dicionário em seu computador, não tem? Nunca achou necessário? É, realmente, para quê né? Mas me diga ai, escreve alguma coisa? Uma frase? É, sobre qualquer coisa. Não? Só no colégio, e aquilo que lhe interessa, ou seja, nada? E tu ainda ri. Sei que você irá fazer vestibular o ano que vem, como vai fazer as redações? Ai, tu estudas? É justo, muito ‘inteligente’ de sua parte. Fala mais sobre os meus escritos. Que isso, sou muito velho para falar de amor? Escrever poesia? Não é só você que pensa assim? Muitos dos seus amigos? Nossa! Que coisa, então uma pessoa mais velha não deve falar em amor? Sou velho. Entendi o queres tu dizer meu rapaz. Com esses conhecimentos todos, tu deves conhecer bem licença poética? Não! É, realmente não precisa, licença para quê? Vamos lá então, leu algumas frases dos meus contos? Não? Algumas frases, parágrafos? Ah! Sim, leu uma frase. Qual? A qual diz que o buraco está olhando-te? Sei, e quem é esse Nietzsche? Não conhece, sei, não gosta de filosofia? Acha um saco? E para que estudar alguém que já morreu. Nossa! Então sabe que Nietz morreu, é mesmo? Interessante. Seu professor é muito ruim? E o colégio também? Sei, entendo. Esta terminando o último ano do 2º grau? E pretende especializar em qual área? Não sabe ainda? Hum. De ressaca? Eu nunca viste tu beber, a sei, tornou-se adepto do “vodka eyballing”, seus olhos arde? Embaça? Ai aumenta o número da fonte? Muito objetivo.”

“Tu gostas mesmo é de estar plugado nos SITEs de relacionamentos; Orkut, Facebook , MSN, Twitter, em games 10, 14 horas por dia? Muito interessante. O quê? Têm dias que tu dormes o tempo todo na sala de aula? Muito cansado? Sei”.

“ Você me diz que não gosta de usar lápis ou caneta? Ah? O teclado do seu computador, tu gostas é disso. Sei, é o seu grafite, sua tinta. Compreendo. Como? Não entendi, encurta as palavras, e a língua portuguesa fica muito mais bonita, isso que ouvi? Como? Mostra-me:”

“Não ñ, n, Sim s, y, Por quê pq, Também tb, tmbm, tbm , Se Faz Favor sff , Beleza blz, Aqui aki ,Acho axo, Qualquer qlqr, qq, qquer, Mais +, Hoje hj, Não é, né neh,neah, Quando Qndo, qdo Novidade 9dade, nvd, Verdade vdd , Você vc, Vocês v6, vcs, Comigo cmg, Tudo bem td bm Por favor pf; pls; plis; plz, Teclar tc, Firmeza fms,fmz, Valeu vlw, Demais d+, Até Mais t+,té +”

“Mas, eu conheço essas letras como internetês canibalesco da língua portuguesa. É Portunet? Esse é o nome? Quem deu foi você? ‘Moleque, tu és muito esperto”

“Que dizer então que vocês, os jovens, têm o seu modo de pensar? E nós, os velhos, um modo arcaico de formular nossas idéias? Caramba! Tu és um jovem que tem os pensamentos ‘muito organizado”

“Está namorando uma garota pela internet? Faz amor pelo computador? Que coisa. É de onde moça, qual cidade? É daqui mesmo? Do Chile? País que faz fronteira com o Brasil? Que isso, o Chile, fronteira? Sei, você não é muito bom em geografia, tu achas?”

“Para tirar o vírus Michelangelo, o pintor, do meu computador, qual o preço do seu serviço? Cobrar quanto? Quem é esse pintor? O vírus pintor? Ficou confuso? Conhece somente o vírus? Não o pintor da Capela Cistina? Isso tudo? Cacete! Formatar, colocar alguns programas novos e vai cobrar de mim isso tudo? Sei, como não sei fazer, não tenho o conhecimento, como tu tens, não posso reclamar. Entendi. Tchau garoto.”

FINAL? O FIM?