terça-feira, 30 de maio de 2017








CANCRO SOCIAL E OUTRAS CHAGAS       (Parte 1)

























CAPÌTULO I




Não há acidentes nem anomalias no universo; tudo acontece por uma lei e tudo atesta uma casualidade.

“Citado por Lúcio de Mendonça no livro o marido da adúltera”


O que conto parece fantasioso, todavia, vou deixar para os senhores ficarem pensando na hipótese da verdade. Mas, antes vamos conhecer a cidade que aconteceu o fato que vou expor aqui nessas páginas.

Esse fato, os quais vão discorrer, aconteceu no município de  Resende,  região central  do Agulhas Negras, que é considerada uma das mais belas do Brasil. Situa-se na região do Vale do Paraíba Fluminense, é conhecida nacionalmente e internacionalmente pelos seus relevos montanhosos, cachoeiras, rios cristalinos, fauna e flora.

A região é o segundo polo turístico mais visitado do estado do Rio de Janeiro, perdendo apenas para a Capital. A extensão territorial de Resende é uma das maiores do estado do Rio de Janeiro. Com grandes extensões de matas preservadas, nascentes e riachos e cachoeira com 200 metros de altura, sendo o maior salto do Estado do Rio.

Com casarões que atestam a opulência e a prosperidade econômica da época do café no Vale do Paraíba. O Centro Histórico de Resende possui diversos casarões, praças, pontes e igrejas do século XIX. Na verdade ninguém pode dizer que conhece o Brasil sem antes conhecer essa região do interior do Estado.

Souza era tenente na Academia Militar das Agulhas Negras, a qual se situa na região central de Resende. Centro em excelência militar no Brasil, quiçá no mundo, se isso é bom ou ruim, não estou aqui para discutir isso. Seu pai, Coronel reformado o criou desde pequeno para ser seu retrato, digo, militar, o disciplinou. Mas, na verdade não precisava, Souza nasceu para seguir a carreira militar, gostava da disciplina, do regime rígido e implacável, a face algumas vezes cruel da carreira. Dizia para todos que nasceu para isso.

Academia Militar das Agulhas Negras é um estabelecimento da linha de ensino militar bélico de nível superior do Exército Brasileiro, responsável pela formação dos oficiais da ativa, futuros chefes militares, das Armas de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, do Serviço de Intendência e do Quadro de Material Bélico. Existe desde 1944 e está localizada às margens da Rodovia Presidente Dutra.

Centrada à sombra do pico das Agulhas Negras, que lhe empresta o nome, e junto ao rio Paraíba do Sul. Ela encontra-se a meio caminho das duas maiores cidades do país, Rio e São Paulo.

As instalações da AMAN impressionam desde o lado de fora, com seu enorme e portão monumental e jardins à sua volta. Tudo é feito visando à formação dos Cadetes, jovens estudantes militar e futuro oficiais, sendo preparados para comandar as forças do Exército Brasileiro no futuro. É considerada a mais bonita Academia Militar do mundo, graças à digna história dos oito cadetes, hoje anônimos militares reformados e de nomes esquecidos, mas o belo gesto, a coragem, devido o amor à sua escola tornaram-se lenda. Pode ser considerada como uma grande Academia Militar, tendo por si só formados diversos militares importantes. O tenente Souza, anos depois da ocorrência relatada fará parte desse grupo.


CAPÍTULO II


Armando Nogueira Feliciano de Souza, mas conhecido como tenente Souza, aos cinco anos de idade sabia ler, escrever e tocava piano. Não saia de casa a não ser para ir ao colégio, em casa se enfiava nos estudos, era primeiro em tudo, no ensino primário, no fundamental e médio. Na academia se formou sendo o melhor da turma, exímio atirador, um espadachim de primeira. Em comunicação militar era comparável com os melhores do mundo, códigos militares conheciam praticamente todos, era um soldado brilhante.

No entanto com as mulheres sua timidez era doentia, em frente a um ser feminino paralisava, perdia a voz, suas pernas tremiam e as mãos suavam em excesso.

Sua atitude diante do mundo era de uma pessoa extremamente rara. Sua honestidade destoava muito do que se vê hoje em dia. Se achasse qualquer coisa que não fosse dele procurava devolver, virou motivo de zombaria quando no primeiro ano na academia achou uma carteira recheada de dinheiro no banheiro dos oficiais e devolveu para o dono. Era um ser ético, difícil de encontrar hoje em dia. Tímido ao ponto de chegar aos 23 anos ainda virgem.

Alguém pode estar pensando que Souza era desprovido de beleza, ledo engano. Cabelo castanho, olhos negros e penetrante, 90 quilos bem distribuídos em 1,91 cm, até sua genitália era bem nutrido e musculoso e bem acima da média. Na verdade era um “homem para casar”, como se diz hoje em dia.

Em uma festa no clube Militar conheceu Sofia, filha de militar, 18 anos, 1,74 cm, olhos caramelizados, cabelos negros um corpo escultural e bem distribuído.

Souza ao vê-la se apaixonou perdidamente. Vitor, o irmão da garota era companheiro do tenente, entraram junto na academia. Souza pediu para o amigo apresentá-la para ele. Ela ficou radiante em conhecer o rapaz tímido e olhar penetrante, ele perdeu a timidez, a paixão falou mais alto. Começaram a namorar, casaram após quase um ano de namoro. Sofia disse para os pais que não aguentava mais esperar. Sendo o pai um militar de disciplina rígida e linha dura entendeu o recado da filha, marcaram a data do casamento.

Dois anos de casados, eram felizes, estavam pensando em ter um filho, ela madura mais mulher. Chamava a atenção por onde passava, Souza fingia não ver os olhares de desejos “dos amigos”, só olhavam, ele tinha plena confiança na sua mulher. No entanto, a natureza, mesmo não sendo seu intuito se impôs contra a felicidade de Souza e Sofia. Ou talvez você queira tirar a natureza e colocar como designo de Deus, eu não, decerto se eu fizer isso ai meus Deus seria o mesmo Deus do livro Caim de Saramago. Vamos ver, talvez no desenrolar do fato vocês concordem comigo.






CAPÍTULO III





Certo dia Sofia estava arrumando a casa e quando olhou para a janela viu um rapaz da casa ao lado da sua olhando incisivamente para dentro da sua, ou seja, para ela. Fechou a cortina e esqueceu. Noutro dia o rapaz apoiado no peitoril da janela fingindo ler e despudoradamente a olhava. Procurou saber quem era o rapaz que estava na casa ao lado. Descobriu que era primo do Tenente Teixeira, amigo do seu marido. Pensou: “sendo primo do militar deve ser gente boa”.

Em uma segunda-feira foi para área de serviço onde tinha uma pequena lavanderia, pretendia lavar roupas. Escutou o rapaz lhe cumprimentar, respondeu educadamente, disfarçadamente o observou, moreno, olhos verdes, porte atlético, a altura um pouco maior que ela, sorriso fácil e cínico.

A área de serviço ficava no fundo da casa, ela de shorts curto deixava transparecer suas coxas generosas e bem torneadas e o restante do corpo melhor ainda. Sem aperceber despertou desejo obscuro no rapaz. 

Sofia colocava as roupas na máquina e esperava. O rapaz de mansinho foi se aproximando. Todo o dia a cumprimentava, ela retribuía. Sofia acabou se acostumando com as saudações. E quando se deu conta estava do lado do muro conversando longos papos. Achava normal ficarem quase todos os dias mantendo horas de conversa com o rapaz enquanto seu marido estava na caserna.

Guto, esse era o nome do rapaz, começou a fazer piadinha de cunho erótico, ela não gostou, cortou a conversa e entrou em casa correndo. No outro dia lavando roupas com uma camisa fina de malha se molhou deixando as mostras as forma rosadas e generosas dos seios, Guto se aproximou e a elogiou tal formosura, foi ai que ela viu a transparência de sua camisa, riu timidamente, entrou para trocar a roupa.

No dia seguinte ela saiu e foi conversar com ele, e foi quando o rapaz lhe disse que era estudante. No rosto de Sofia a pergunta, se ele era estudante por que estava na casa do primo em pleno mês letivo? O rapaz disfarçou. O jogo continuou, as piadinhas, sorrisos, elogios sobre seu corpo, ela ria e se sentia lisonjeada. Vendo que ela estava mais solta o galanteador começou a soprar baixinho o que faria com ela se os dois ficassem sozinhos, ela dizia:

 “Você não tem coragem de fazer essas coisas nojentas”

O conquistador apontava em direção da bermuda e a mostrava como ela o deixava. Sofia espantada, mais ao mesmo tempo orgulhosa de causar êxtase no homem sem o menos tocá-lo. Ele lhe dizia coisas que jamais achava que podia acontecer entre um homem e uma mulher.

Como vocês podem observar o rapaz usava do ócio criativo, nunca trabalhou, estudou até a terceira série do ensino fundamental. Sua sobrevivência dependia das mulheres enganadas por ele. Criatividade tinha, mais jamais para mudar a si próprio. 

Quando Sofia já estava bem “amaciada”, Guto pulou o pequeno muro que separava as duas casas, quando ela se deu conta, ele estava atrás dela no quartinho da lavanderia, ela viu estrelas, ainda mais quando ele a ensinou a arte da felação e cunilíngua, ela se sentia na lua, em uma viagem cósmica e alucinante.

Na artimanha da sodomia se iniciou e ao conhecer formas diferentes ficou se perguntado:

 “Como não sabia nada disso? Que prazer é esse que o Guto estava-lhe proporcionando?” Amor, carinho e orgasmo manso tinham com o marido, mas esse?

Aquilo estava além de sua imaginação, sentir dor e prazer como estava sentido nos braços daquele homem.

Isso não quer dizer que nunca teve prazer com o marido, claro que não era isso, tinha, mas, não tão intenso com o tinha com Guto, mesmo ele tendo o músculo que lhe dava tanto prazer bem menor e menos encorpado do que o do seu marido. Mas, o cafajeste sabia usar seus atributos.

Seu marido era tão inexperiente quanto ela, “papai e mamãe” era o que os dois conheciam. Isso bastava para Souza. Mas quando Sofia conheceu novas formas de amar se apaixonou loucamente pelo Dom Juan do muro.

O devasso a transformou tanto sexualmente como psicologicamente, mentir se tornou parte de sua vida.

Que fique claro que não quero influenciar ninguém a respeito dos acontecimentos, mas se ela era tão intensa deveria ter conversado com o marido. É sabido que Souza fazia tudo que ela pedisse, até a lua se fosse o caso ele lhe daria. Digo, não quero julgá-la, eu como escriba desse caso só estou explanando minha opinião. Vocês podem ter as suas.

Mais voltando o fato: ela ficou alucinada com as novas descobertas. Tinha mais de dois meses que não procurava o marido. E quando Souza tentava afanar um carinho dela, dores de cabeças intensas surgia em Sofia. Ele a beijava no rosto e dormia com ela ao lado acordada, sonhava com Guto.

Eu volto a dizer: a natureza conspirava a favor de Sofia. O tenente Souza foi convidado um curso de sobrevivência na selva na Amazônia, não queria ficar longe de sua amada, mas, colocar em seu currículo esse curso era seu sonho. Viajou para passar um mês na selva. Como vocês podem ver, ela, a natureza conspirava contra um homem de caráter a favor de outro totalmente sem. Livre arbítrio? Sei. 

 Sofia aproveitou e colocou Guto dentro de casa, mesmo com os olhares de repugnância dos vizinhos, não ligou. Dia e noite durante vários dias, ela se tornou conhecedora da arte do “amor” sexual. Na alcova lhe pedia para fugir com ele. Ela dizia:

 “Tenho pena do meu marido”

No dia da chegada do marido, o rapaz pulou o muro, ela fingia felicidade com a volta de Souza. Ele feliz em estar de novo junto com sua amada esposa.

Os dias passaram e ninguém tinha coragem de contar-lhe o que sua esposa andou fazendo em sua ausência. Ele sentia que as pessoas o olhavam diferente, não entendia.

Certo dia Souza observou que estranhamente estava sumindo dinheiro de sua carteira. Perguntou para Sofia:
“Você pegou algum dinheiro em minha carteira?”

“Não - respondia descaradamente.”


CAPÍTULO IV


Até que um dia de tanto o cafajeste ficar falando aos seus ouvidos, decidiu fugir. Sofia pegou todo o seu dinheiro da poupança e foi embora.

Souza estava ansioso para chegar a casa e ver sua amada, não sabia o porquê, mas estava com muita saudade, surgiu assim, de repente, lembrou da amada. Quando entrou em casa a chamou e nada, silêncio total, no quarto o armário vazio.

 “O que aconteceu?” Murmurava para si mesmo.

Procurou em todos os cômodos da casa. O desespero bateu em seu coração. “Ela fora embora” - pensou. Saiu na rua para perguntar para os vizinhos, na casa em frente a sua, não encontrou ninguém. Por mais incrível que lhe estava parecendo não encontrou pessoas, ruas vazias.

O que estava havendo, nem os vizinhos estavam em casa? Foi quando viu o seu vizinho e companheiro de academia, o Tenente Teixeira, que aproximou e lhe disse:

“Sua mulher fugiu com o meu primo.”

Souza ficou boquiaberto sem entender o que o tenente acabara de falar, apalermado gritou:

“ Você está mentindo! – Exclamou revoltado segurando a gola da camisa do Teixeira”

E o tenente disse:

 “ É por isso que ninguém quer falar com você. Os vizinhos se esconderam com medo de sua reação”

Empurrou o companheiro e entrou em casa cabisbaixo tentando descobrir onde tinha errado.


CAPÍTULO V


Sofia foi convencida por Guto a viajar para Campinas. Acreditou que a paixão do rapaz era verdadeira, dizia para ela que iria montar uma casa para os dois morarem junto. Foram para um hotel, ela muito feliz, estava muito apaixonada. O cafajeste usava o dinheiro de Sofia em farras, mulheres e roupas, Sofia não sabia de nada. Dos meses de amor intenso e “sujo”, opa! Sujo não. Sujo porque ela fazia com um sujeito sujo.

Após três meses da estada em Campinas o dinheiro acabou e o amor do marginal também. Ela foi obrigada a fazer as piores bizarrices, passando por diversas humilhações para suprir as necessidades financeiras do “seu amor.” Tudo que tinha aprendido a respeito da “educação sexual com Guto” teve que colocar em prática com homens que o galanteador arrumava para ela. Sendo obrigada a alojar em seus lábios parte íntimas masculinas e femininas que a muitos não via água. Sebos fedendo a carniça entravam em sua boca diariamente, seu corpo foi usado como depósito de fluidos que penetrava nela de variadas formas possíveis. Transformou-se em um dejeto humano.

Não aguentou, adoeceu. “Seu amor” sem despundonor nenhum a jogou na rua. Doente procurou um lugar para ficar, pontes, marquises, era a sua opção. Tinha vergonha em até pensar entrar em contato como seu marido, sua vergonha só não era maior que a vontade que ela tinha de se matar, mas nem para isso ela tinha força. Tentativa de estupros era constante. Fome fazia parte do seu cardápio diário. Sentia pena de si e murmurava:

“ Como sou burra, deixei meu instinto libidinosos suplantar um amor descente e verdadeiro”.

Perdeu a razão de viver, entre pedidos de esmolas e a loucura, esperava a morte chegar.


CAPITULO VI





No quartel Souza procura se manter altivo, no entanto, após a partida da mulher ninguém via em seu rosto um sorriso. Aquartelou-se, sua casa trazia lembranças que estava se esforçando para esquecer. Trabalho, praticar esporte em uma tentativa de escapar das lembranças se tornara tentativas infrutíferas.

Piadinhas no quartel sobre ele e a esposa escutava direto, risos, cochichos, olhares de soslaio. “Seu amigo Teixeira” fez a parte dele no quartel: parte ruim. Espalhou o acontecido entre o primo e a esposa do tenente Souza. Isso não magoava o oficial, sua saudade era maior que as piadas. Mas indisciplina ele não deixava passar. No alojamento ao passar uma ordem para o cabo recebeu como resposta:

 “Não recebo ordem de corno.”
O tenente Souza dispensou quem estava dentro do alojamento ficando ele e o cabo indisciplinado.

O subalterno não acreditava em retaliações de um homem que todos diziam ser “certinho” cumpridor das normas militar. Mas aquele dia não foi assim. Quando se deu conta o tenente estava em cima dele esmurrando-o, não teve tempo de se defender, Souza descontou a raiva que estava sentindo em seu subordinado desafortunado. Saiu deixando seu comandado com o rosto sangrando e vários dentes quebrados.

O que vocês acham que aconteceu? Nada. Ninguém comentou sobre o acontecido. O cabo alegou que sofreu um acidente. A partir daquele dia não se ouvia mais comentário ou cochichos sobre a vida privada do tenente Souza: Medo.

O tenente uma vez por semana ia a sua casa, quando estava com muita saudade do cheiro da amada. E ao dormir, o travesseiro ficava umedecido de lágrimas nostálgicas. Sentia morrer um pouco a cada dia com a falta da esposa.

Como amar uma mulher assim? O amor de Souza não era doentio, era incondicional.

Ao amanhecer o sol bateu em seu rosto, a janela aberta trazia umidade do Pico das Agulhas Negras, sinal de muita chuva durante o dia. Estava sem força para levantar-se, ouviu alguém por lado de fora lhe chamar, era seu vizinho, antigo amigo, o primo do homem que fugiu com sua mulher, não queria responder, entretanto, sua educação era maior do que a mágoa que sentia pelo tenente Teixeira.

Ele, meio sem graça ao ver Souza a porta, contou para o oficial que ficou sabendo o que seu primo fizera com Sofia, deixando na absoluta miséria. Ouviu tudo, agradeceu ao Tenente Teixeira e entrou em casa para pensar no que acabara de saber.

Foi para o quartel pensando em qual atitude tomar diante do acontecimento. No caminho tomou a decisão: Ao chegar ao quartel foi imediatamente conversar com o comandante. Pediu-lhe dez dias de dispensa para resolver assuntos particulares. Seu pedido foi aceito.



CAPÍTULO VII



Pegou a Br-166 e foi para a cidade de Campinas. Andou pelas ruas da cidade, vielas, guetos, debaixo de viadutos e nada de encontrá-la. Já estava no oitavo dia de procura e sem dormir, porém, tinha disposição de ficar procurando-a até acabar sua licença.

Passando embaixo do viaduto Miguel Vicente Cury ao anoitecer do nono dia ele a viu, seu coração parecia que iria parar, acelerou, a tinha encontrado. Sofia estava irreconhecível, feridas no rosto, cabelos lotados de piolhos que andavam em seu rosto e nas suas sobrancelhas. Chorou ao vê-la em tal estado. Ela tentou fugir dele, Souza viu no rosto da esposa a vergonha, faltou coragem para encará-lo. Ao vê-la tão fragilizada, seu coração amargurado se abriu em alegria, não de ver tamanha decadência da amada, mas, sim por sentir que seu amor estava perto dele.

Ela sem força não resistiu ao ser pega no colo e postada dentro do carro. O tenente Souza ao chegar a Resende, a levou direto para uma clinica particular. Mandou fazer todos os exames possíveis na esposa.

Agradeceu a Deus, pois, sua amada teve sorte, a única doença venérea que adquiriu foi um cancro, “se podemos chamar isso de sorte”, no entanto Souza estava feliz. A médica o chamou para conversar e lhe disse que o cancro tinha mutilado a vulva de sua esposa, os vermes e bactérias tinham comido os pequenos lábios vaginais e seu clitóris. Mutilou de tal forma que nem cirurgia plástica iria resolver. A médica enfatizou que Sofia tinha muita sorte em ter uma doença curável.

Quando a família de Sofia e principalmente a família Nogueira Feliciano de Souza ficaram sabendo que Armando tinha aceitado Sofia de volta depois de tudo que ela fizera, ficaram revoltados.

Perguntavam: como ele podia aceitar semelhante pessoa ao lado dele? O mínimo que o chamaram foi de idiota. Ele em silêncio ouvia todos sem responder. Como podia falar para alguém que sua alma só seria completa junto com a de Sofia. Quem entenderia? Um amor imaginável, seu corpo implorava pela presença dela. Sem essa essência, ele não conseguiria viver. Quem entenderia isso?

No quartel voltou os cochichos, mas não sei importava. Perto dele mantinham-se silêncios, lembravam-se da surra que ele deu no cabo. Seus ditos “amigos” diziam que não podia ter contato com um homem que aceitou de volta semelhante criatura. Afastaram dele como se tivesse uma doença contagiosa.

O comandante conhecia a competência de Souza, nada comentava, a ética não deixava. Para ele o que importava que seu subordinado era um excelente militar. Honrado, ético e competente. Estava sendo preparado para ser futuro chefe militar das Armas de Infantaria. Isso que lhes interessavam.







CAPÍTULO VII





Sofia ficou quatro meses na clínica se tratando com antibiótico fortíssimo. Ao sair às marcas externas tinha sumido, mas as internas a tinham marcado para sempre. No entanto, Sofia tinha recuperado a beleza, estava linda. 

Em casa, sem jeito, com vergonhas de sua atitude desonesta com seu marido, mas, se consolava a ver no rosto do esposo a felicidade com a sua presença. Os vizinhos a desprezavam. Ela entendia esse sentimento de repulsa.

Nem os familiares apareciam mais em sua casa. Ela fazia de tudo para não sair de sua residência, queria anonimato total. No começo não entendia como Armado a tinha perdoado apesar de tudo que ela fez. Aos poucos entendeu o amor imenso do marido, e pensava que para isso teve que virar um dejeto humano, parar na sarjeta.

Através do carinho do esposo conseguiu recuperar dos traumas, e de sua mutilação causado pelo cancro. Sofia acreditava que com a sua ablação não iria mais sentir prazer, todavia, com o amor do marido ela não só sentiu prazer, como a relação entre os dois se tornara muito forte.

Aprendeu que o que ela pedisse para o marido ele fazia, não lhe negava nada. Com muito jeito ela começou a orientar Armando ensinando-lhe tudo que aprendeu com o homem que quase destruiu sua vida. Descobriu que o que ela sentia na lavanderia com o cafajeste não era nada comparado com o que ela sentia com o marido. Com Armando era puro amor.

Dois anos se passaram, ela grávida de oito meses, o amor do marido a fez compreender o quanto era amada, se apaixonou de tal forma pelo marido que tinha um medo pavoroso de perdê-lo.

Ele nunca tinha perguntado o porquê dela fugir de casa, e ao tentar explicar ele não deixava da boca do marido só ouvia palavras de carinho. Sua paixão pelo marido era intensa, pura uma doação de um para o outro. “E como ela o amava!” Dizia para si. Mas esse amor trouxe em seu coração um medo intenso de perdê-lo.

Em um dia qualquer da semana com consulta marcada foi para a clínica fazer pré-natal, logo após ao sair viu o Guto na porta, estava-lhe esperando, quando ele se aproximou dela o feto em sua barriga começou a chutar, mexia tanto que parecia querer sair da barriga da mãe. Aproximou-se e tentou beijá-la, sua repulsa foi tão grande que quase vomitou em cima do cafajeste. Ele lhe disse:

 “Vou te ensinar como fazer amor com uma grávida.”

Sofia conseguiu recuperar a calma e marcou para os dois se encontraram em um galpão que ela conhecia na Cidade da Alegria, um bairro afastado do centro da cidade. Marcou para o outro dia.

Em casa fez de tudo para seu marido não aperceber o que estava acontecendo com ela, o seu desespero íntimo.

No outro dia esperou o marido sair para o quartel, e foi para o encontro. Chegou cedo e ficou esperando. Guto chegou e se aproximou sorrindo, e foi logo dizendo:

 “Eu sabia que você viria me encontrar, estava sentindo de falta de mim, sua safada?”.
Quando ele estava uma distância de 5 metros seu feto começou a mexer-se, ela alisou a barriga, abriu a bolsa sacando uma arma e não dando tempo para o cafajeste correr ou gritar. Sofia descarregou o pente de balas em cima do marginal, ao acabar os projéteis ela se aproximou do corpo e cuspiu. Entrou no carro, seu neném estava tranquilo, ela também. 






CAPÍTULO VIII




O tenente acabara de chegar do quartel e não encontrou Sofia, sentou no sofá com as mãos na cabeça, seu olhar perdido tristemente na parede da sala. Dois dias antes lhe vieram contar que Guto estava na cidade. Provavelmente Sofia saiu para encontrá-lo. Ela não tinha motivo para sair de casa, não que ele soubesse. Bateu-lhe um desânimo tão grande parecendo que o chão estava se abrindo para engoli-lo. Ouviu o barulho do portão da garagem se abrindo, esperou.

Sofia entrou na sala e lhe abraçou por um longo tempo e depois lhe disse:

“Matei o ordinário”

 Não entendeu, acreditou que tinha ouvido errado. E quando ele a viu tirar da bolsa arma que ele guardava com todos os cuidado dentro do guarda-roupa, entendeu o que ela tinha dito com o, matei o ordinário!

Entregou-lhe em suas mãos. O tenente segurou a automática ainda quente, cheiro de pólvora exalava dos canos. Pensou rápido, levou a mulher para o banheiro e lavou as mãos da esposa com uma solução química, a levou para o quarto e lhe disse:

 “Vou cuidar de tudo”

Jogou a arma na solução para tirar o cheiro de pólvora. A limpou e guardou. Não podia deixar que a mulher fosse acusada do crime, ainda mais grávida. Qualquer coisa iria dizer que foi ele que matou o cafajeste. Sofia não aceitou isso:

“Em hipótese alguma vou aceitar que você assume meu crime”.

Foi firme em sua voz. E disse-lhe:

“Se alguém tem de pagar pelos erros cometidos essa pessoa sou eu”.

Souza compreendeu sua mulher. Perguntou:

“O corpo, onde está?”

Ao saber do local se dirigiu para lá, limpou a área tirando todos os vestígios, principalmente as cápsulas vazias da arma usada, as marcas dos pneus do carro da esposa. Pegou o corpo e o levou para um pasto afastado do lugar onde o rapaz foi morto, e o enterrou em uma cova profunda, não sem antes jogar gasolina no corpo e vê-lo torrar totalmente. Foi criterioso, teve o máximo cuidado de observar toda a área cuidadamente.



FINAL



Dias se passaram e nada sobre a morte do indivíduo nos jornais, parecia que ninguém sentia falta de semelhante criatura. Souza tranquilizava Sofia dizendo-lhe que jamais alguém iria descobrir o corpo, e se descobrisse, não tinha como achar quem o matou.

Quinze dias após esses acontecimentos nasceu o filho de Souza e Sofia, os parentes vieram para cumprimentá-los, esqueceram-se de tudo, Disse-lhes:

 “Se ele amava a mulher, não seriam eles que ficariam contra. O casal estava feliz, era isso que importava para toda a família”

O tempo é milagroso e curam feridas profundas. Anos se passaram Souza e Sofia agora com quatro filhos, o mais velho com 12 anos. O Coronel  Armando Nogueira Feliciano de Souza assumira um cargo importante no comando de Comunicação do Exército Brasileiro.




FIM
O Portuga


Esse caso quem me contou é um ex-motorista de táxi de nome Silas, dono de um bar perto de minha casa, e de vez em quando paro no local para ouvir seus causos do tempo que ele dirigia nas ruas da cidade onde moramos. Vou relatar um causo segundo ele, e em sua voz:

Coitado do Manuel. Como o nome diz, ele era português radicado no Brasil a mais de trinta anos, bom sujeito, honesto ao extremo. Isso mesmo! Honesto, digo-lhes com ênfase que você vai-me entender o por que, explico esse honesto; devo dize-lhe que trabalhei mais de trinta anos como motorista de táxi na cidade (cidade do interior do estado do rio, Vale do Paraíba, mais precisamente em Volta Redonda, a cidade do aço) não estou dando volta, só para situar o contexto do acontecido. Nas ruas da cidade ganhávamos a vida como motorista. Conheci o “Portuga” no ponto. Sujeito alegre, jovial, bom motorista, excelente amigo. E tem mais: ajudou no aumento da população da cidade e na miscigenação, pois como seus antigos companheiros do povoamento brasileiro, o nosso “Portuga” também adora uma negra. Casou com uma.

Como você pode notar era um típico brasileiro. Coitado do pobre do meu amigo. Como já disse não querendo ser repetitivo, ele era tão honesto que alguém deixasse uma caixa de fósforos dentro do seu táxi ele procurava para entregar.

Manuel cansou de procurar clientes para entregar objetos esquecido no interior do seu autocarro, como ele gostava de chamar seu táxi. Lembro-me de uma maleta 007 esquecida por alguém no interior do seu autocarro com centenas de dólares, nem procurou saber a quantia, foi atrás do passageiro de memória fraca e entregou a maleta, e digo mais, não quis aceitar nenhuma recompensa pela sua honestidade. “Não é meu tenho que devolver” dizia para nós. Não pestanejo, foi o sujeito mais honesto que conheci em minha vida: no entanto para os “vermes” não.

O escriba: “ Só para esclarecer esse “vermes” o ex-taxistas Silas  não gosta de quem usa farda, ou melhor, policiais, militares. Disse-me que foi muito perseguido durante a ditadura, pois com o nome de Área de Segurança Nacional os policiais da sua  cidade ganhou poderes acima  da lei, e os Cabeças de Tomate( Milícia criada pela ditadura para vigiar a cidade, e que muitas vezes agia como policiais ) o perseguia.  Esse causo ocorre em plena ditadura militar

E como é normal na cidade muitos dos antigos  moradores eram alienado. E muitos ainda os são até hoje e vive com a falsa idéia que na época da ditadura  a cidade era bem mais segura, pois os militares tomavam conta de tudo, inclusive dos moradores” Quando alguém chega perto dele e fala isso ele explode em um furor sem igual.

Mas continuando:

Estávamos no ponto conversando eu, o “Portuga” e outros, ah!....Esse ponto ficava em frente à antiga Casa da Banha, na Vila, que na época o mercado estava em pleno funcionamento. Como o carro do  nosso malfadado amigo estava na frente,  um casal se aproximou e entrou em seu autocarro( táxi).

Agora vou relatar o que fiquei sabendo por ele e acreditei é claro. Ele levou o casal para o Retiro, bairro do outro lado do Rio Paraíba. Eles pararam e pediram para o Manuel aguardar,......5 minutos.......10 minutos e foi quando  ele viu o casal vindo correndo em sua direção gritando para ele ligar o carro. Ouviu uma voz gritando “pega ladrão”. Ficou apavorado, a mulher apontou um revolver em sua direção e o fez levá-los para o bairro Belo Horizonte, na subida do bairro o casal parou e o mandou ir embora. Fez o sinal da cruz e saiu apavorado e com uma intensa dor de barriga. Como sua casa ficava no meio do caminho e a poucos metros da delegacia entrou correndo em casa e foi direto para o banheiro. Logo após alguns minutos saiu pisando nas nuvens. Foi para o ponto. Esqueceu-se de dar parte do acontecido. Coitado do “Portuga” 

Não demorou muito chegou à polícia e o prendeu por assalto, cumplicidade. A senhora que foi assaltada viu a placa do seu táxi. Não adiantou ele negar. Apanhava e ouvia: “Cadê seus cúmplices”. Não tenho cúmplices seu policial, dizia. A sua negativa deixava “os vermes” mais nervosos ainda, apanhou tanto, socos nos rins, no peito, no fígado. Foi torturado durante horas. Depois de dias preso foi solto. Triste e marcado pela tortura  voltou para trabalhar. Não durou muito, morreu meses depois desse acontecimento. Coração enfraqueceu.



 Kaka de Souza