segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Margarida Maria Mazza

Busca e miragem

Mal rompia madrugada

Em meio ao frio: tiritante

Eu, a busca iniciava

De ti, fugitivo amante;


Cruzava montanhas, vales

Como os cabelos, orvalhados

E d’outro tipo de orvalho

Sentia os olhos molhados;


Era a luz dos pirilampos,

Se a luz se escondia

Que vaga idéia me dava

Do rumo que eu seguia;


“Fugiste de medo, Anjo?

Medo de amor que querias?”

E a pergunta ecoava

Inútil, na noite fria;


Entre um soluço e outro,

Um sorriso me acudia,

E numa miragem louca

Era teu rosto que eu via;


Entardeceu e ouvi:

“Volta, a sua busca é vã!”

Mas eu te driblo razão,

Pois recomeço amanhã;


Vencida pelo cansaço,

Fechando os olhos, senti

O envolver dos teus braços:

Ali mesmo adormeci.


Margarida Maria Mazza


Dádiva divina

Rompendo a densa treva

Que envolve a vida em mudez,

Uma luz a ti me traz

Com tamanha nitidez,

Que, fundindo nossas almas,

Faz pertencer-nos outra vez;


E agora, para sempre:

Sem o denso nevoeiro

Que salpicava de abismos

Nossos encontros primeiros;


E agora para sempre;

Sem mais a dúvida insana;

A mão que a ti me entrega,

É de que jamais engana;


Não mais ciúme infundado,

Não mais brigas infantis:

Apenas o amor sonhado,

O paraíso que se quis.


Margarida Maria Mazza


Desvario


Tudo é triste aqui dentro

Pois o amor se faz distante

De quem eu fiz minha vida

Já não posso ser amante;


Tudo é triste lá fora,

Pois meus olhos a chorar

Eu não me animo a erguer

Para alguém cumprimentar;


E a tristeza em diabruras,

Em seus deboches sem fim,

Envolve os maus espíritos

Que fazem troça de mim;


E eu rio sem parar,

Rio sem saber porque;

Rio dos meus desvarios,

Do meu jeito de sofrer;


Há riso em mim e não choro

Porque hoje decidi

Que mesmo por desaforo

Todo o tempo vou sorrir.


Margarida Maria Mazza


Meu vazio


Da aridez do meu peito

Saudoso, mesmo de dores,

Brota a incrédula pergunta;

Que foi feito dos amores?


Dos amores que eram rimas,

Dos amores que eram festas,

Dos amores que eram chamas:

O que em mim hoje resta?


Murmura o mar: sabedoria,

Sussurra o ar: experiência,

Mas que estranhas palavras

Para definir ausência!


Foram-se prantos aos rios,

Foram-se sonhos aos bandos,

Após acenos crus e frios,

Sem que eu percebesse

Onde e quando...


Margarida Maria Mazza