Busca e miragem
Mal rompia madrugada
Em meio ao frio: tiritante
Eu, a busca iniciava
De ti, fugitivo amante;
Cruzava montanhas, vales
Como os cabelos, orvalhados
E d’outro tipo de orvalho
Sentia os olhos molhados;
Era a luz dos pirilampos,
Se a luz se escondia
Que vaga idéia me dava
Do rumo que eu seguia;
“Fugiste de medo, Anjo?
Medo de amor que querias?”
E a pergunta ecoava
Inútil, na noite fria;
Entre um soluço e outro,
Um sorriso me acudia,
E numa miragem louca
Era teu rosto que eu via;
Entardeceu e ouvi:
“Volta, a sua busca é vã!”
Mas eu te driblo razão,
Pois recomeço amanhã;
Vencida pelo cansaço,
Fechando os olhos, senti
O envolver dos teus braços:
Ali mesmo adormeci.
Margarida Maria Mazza
Dádiva divina
Rompendo a densa treva
Que envolve a vida em mudez,
Uma luz a ti me traz
Com tamanha nitidez,
Que, fundindo nossas almas,
Faz pertencer-nos outra vez;
E agora, para sempre:
Sem o denso nevoeiro
Que salpicava de abismos
Nossos encontros primeiros;
E agora para sempre;
Sem mais a dúvida insana;
A mão que a ti me entrega,
É de que jamais engana;
Não mais ciúme infundado,
Não mais brigas infantis:
Apenas o amor sonhado,
O paraíso que se quis.
Margarida Maria Mazza
Desvario
Tudo é triste aqui dentro
Pois o amor se faz distante
De quem eu fiz minha vida
Já não posso ser amante;
Tudo é triste lá fora,
Pois meus olhos a chorar
Eu não me animo a erguer
Para alguém cumprimentar;
E a tristeza em diabruras,
Em seus deboches sem fim,
Envolve os maus espíritos
Que fazem troça de mim;
E eu rio sem parar,
Rio sem saber porque;
Rio dos meus desvarios,
Do meu jeito de sofrer;
Há riso em mim e não choro
Porque hoje decidi
Que mesmo por desaforo
Todo o tempo vou sorrir.
Margarida Maria Mazza
Meu vazio
Da aridez do meu peito
Saudoso, mesmo de dores,
Brota a incrédula pergunta;
Que foi feito dos amores?
Dos amores que eram rimas,
Dos amores que eram festas,
Dos amores que eram chamas:
O que em mim hoje resta?
Murmura o mar: sabedoria,
Sussurra o ar: experiência,
Mas que estranhas palavras
Para definir ausência!
Foram-se prantos aos rios,
Foram-se sonhos aos bandos,
Após acenos crus e frios,
Sem que eu percebesse
Onde e quando...
Margarida Maria Mazza